Setembro Amarelo: Audiência na ALEMS sensibiliza para ações de valorização da vida
A tatuagem no braço da jornalista Aryana Lobo a ajuda a relembrar de seguir em frente mesmo diante das adversidades. “Eu atentei contra minha vida três vezes e não me orgulho disso. Quando uma pessoa tenta se matar, ela tenta matar a dor e não a sua vida”.
O depoimento de Aryana fez parte da audiência pública realizada nesta quinta-feira (30) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) em alusão à campanha Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio.
Em sua fala, a jornalista relata que a vontade de dar fim à vida veio relacionada ao diagnóstico de depressão profunda em 2010. “Sou uma pessoa muito alegre. Quando eu tive depressão profunda ninguém acreditou. As pessoas perguntavam: como assim estava acontecendo com a Aryana? Às vezes, a aparência não quer dizer nada”, relatou.
Para ela, o mais importante no processo de enfrentar os desafios foi a aceitação. “É importante e delicado dar o primeiro passo. É doloroso aceitar que estamos vulneráveis. Você que está passando por um momento difícil, eu peço que você procure ajuda. Continue. Sempre que olho a minha tatuagem, eu lembro que tenho que continuar”, disse.
Suicídio em Mato Grosso do Sul
A proponente do evento e autora da lei que instituiu a campanha Setembro Amarelo no Estado, deputada Mara Caseiro (PSDB), falou sobre os dados alarmantes de casos de suicídio em MS. “A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que, de 2020 para 2021, 422 pessoas se suicidaram e 316 tentaram e não conseguiram. Cerca de 20 pessoas por mês atentam contra a própria vida”, disse.
A parlamentar ainda destacou que MS ocupa o terceiro lugar no ranking de estados com maior índice de suicídios no Brasil. “Para ajudar a prevenir esses suicídios criei a lei do Setembro Amarelo, para estender a mão para quem está sofrendo. Levanto a bandeira da solidariedade, da empatia e da solidariedade. Existe alguém que te ama. Você é importante”, destacou.
Representante da SES na audiência pública, Michele Scarpin falou sobre as ações governamentais para a prevenção ao suicídio. Ela explicou que os altos índices em Mato Grosso do Sul são realidade desde 2017.
“Em 2018, foi criado um projeto para enfrentar o tema. Investimos na capacitação de profissionais para notificar os casos e atender à população. Divulgamos informações e trabalhamos junto aos municípios para implantar equipes de atendimento mental. Nosso papel é fortalecer e ampliar esses serviços no Estado. Necessitamos de qualificação adequada, pois, às vezes, as unidades não têm profissionais especializados em saúde mental”, enumerou.
Em Campo Grande, o representante da Secretaria Municipal de Saúde, Eduardo Araújo, explicou que há equipes multidisciplinares capacitadas a atender pessoas em sofrimento mental.
“Se alguém estiver em sofrimento mental e procurar a urgência e ou a emergência, estamos organizados para dar assistência. A pessoa será atendida, vai ser acolhida pela unidade, a equipe de psiquiatria será avisada e definirá qual o melhor encaminhamento para o paciente. Esse paciente é totalmente assistido, jamais será abandonado”, detalhou.
Outra instituição que presta apoio em casos de tentativas de suicídio é o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBM-MS). “O Corpo de Bombeiros não se resume a incêndios. Dentre nossas atribuições está o atendimento ao paciente em risco de suicídio. Se você pensa que sua vida não faz sentido e que não há saída, você não está sozinho, busque atendimento profissional. Nós somos por você", enfatizou o médico do CBM-MS, tenente Arakaki.
Sinais e tratamento
De acordo com o psiquiatra Marcos Estevão dos Santos Moura, cerca de 96% dos suicídios estão atrelados a algum transtorno mental. “Às vezes, perguntamos por que alguém faria isso em sã consciência. Porque não está em sã consciência. Precisa haver mais tratamento para essas pessoas”, disse o médico.
O profissional explicou que não há um sinal do suicídio, mas que há sinais dos riscos do suicídio. “Quando modificamos nosso dia a dia. Se achamos que somos estorvo para nossa família, se achamos que não temos valor, se não achamos prazer nas coisas corriqueiras, esses são sinais iniciais. Se atrelado a isso vem o planejamento de acabar com a vida, já é uma emergência psiquiátrica”, afirmou.
O sentido da vida
Mestre em psicologia da saúde, Ana Carolina Perroni fez uma reflexão sobre a vida. “O que é estar vivo? Vida é existência e dar sentido à essa vida é o que nos faz sentir vivos. Quando perdemos o sentido da vida, a gente sobrevive, fazemos por obrigação, perdemos brilho no olho e aqui entra o processo de adoecimento mental”, ressaltou.
Ana Carolina também falou sobre ações e atitudes que podem fazer diferença para a mente e o emocional. “Saúde mental é autocuidado que abrange corpo, mente e fé. Se não cuidarmos da nossa mente, desenvolvemos tristeza profunda, desequilíbrio. Temos que criar mecanismos de manutenção da nossa saúde mental”, disse. Ela explica que é preciso buscar por atividades que proporcionam bem-estar emocional, hábitos saudáveis e rede de apoio.
Leia aqui as ações da ALEMS sobre o Setembro Amarelo e onde buscar ajuda.
Assista à audiência na íntegra:
Crédito obrigatório para as fotografias, no formato Nome do fotógrafo/ALEMS.