Fazendo Arte investiga trabalho de Conceição dos Bugres como marco identitário de MS

Imagem: Conceição Freitas é um dos principais nomes da expressão artística local, por meio da imagem do bugre
Conceição Freitas é um dos principais nomes da expressão artística local, por meio da imagem do bugre
31/03/2023 - 16:13 Por: João Grilo   Foto: Reprodução TV ALEMS

A artesã Conceição Freitas da Silva Antunes, popularmente conhecida como Conceição dos Bugres, é um dos principais nomes da expressão artística local, por meio da imagem do bugre. Suas esculturas simples e talhadas na madeira são ícones da cultura-sul-mato-grossense, conforme documentário do programa Fazendo Arte, que entra na grade da TV ALEMS nesta quinta-feira (30), às 18h, e depois da exibição já sobe para o YouTube da Casa de Leis.

A arte de Conceição dos Bugres é muito representativa para o cenário regional e nacional, tanto que já abrilhantou exposições realizadas no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) e na Galeria Estação, em São Paulo. Além disso, a artista e seu trabalho já foram objetos de estudo de dois livros, publicados como trabalho de conclusão de curso e dissertação de mestrado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). 


Exposição do Masp homenageou Conceição dos Bugres

Conceição Freitas da Silva nasceu no dia 8 de dezembro de 1914 em Povinho de Santiago, no Rio Grande do Sul. Sua família migrou para o Mato Grosso do Sul por conta da perseguição dos bugreiros aos povos indígenas, relacionada à onda de imigração europeia para o Sul do Brasil no início do século 20. Aos 6 anos passou a morar em Ponta Porã e em 1957 se mudou para Campo Grande. 

Em 1960, o pintor Ilton Silva, um dos filhos de Conceição, apresentou o trabalho da mãe ao artista plástico Humberto Espíndola e à produtora cultural Aline Figueiredo, fundadores da Associação Mato-Grossense de Artes (AMA). Eles se tornaram seus primeiros admiradores e divulgadores. 

Na década de 70, já com mais de 50 anos, Conceição teve seu trabalho reconhecido e integrou importantes exposições regionais e nacionais. Entretanto, essa visibilidade não se converteu em ganhos financeiros. A artista faleceu pobre em 1984, sem realizar seu maior sonho que era ter uma casa própria. 

Bugrinhos – Com o objetivo de investigar a produção de Conceição dos Bugres como  um dos marcos identitários do Estado, o Fazendo Arte mergulha no universo da artista, nascida no Rio Grande do Sul e radicada em Mato Grosso do Sul. O material conta com apoio do documentário ‘Conceição dos Bugres’, dirigido pelo cineasta Cândido Alberto da Fonseca no início da década de 80; único registro audiovisual com imagens e áudios da artesã. 

Os ‘bugres’ ou ‘bugrinhos’ de Conceição são esculturas de figuras humanas com traços indígenas. Geralmente esculpidos em madeira com golpes secos e retos de facão, são recobertos com cera de abelha e têm os cabelos e os detalhes do rosto tingidos em preto. Alguns poucos exemplares são feitos em pedra-sabão e arenito. Entretanto, o material original das esculturas de Conceição foi a cepa de mandioca.


Peças ficaram supervalorizadas após exposições em SP

No documentário de Cândido Alberto da Fonseca, Conceição explica que antes de produzir os bugrinhos, trabalhava com fibras de lã e crochê. “Minha vista tava cansada, cansou, daí sentei embaixo de um pé de árvore e comecei a pensar no que eu poderia fazer. Aí vi uma cepa de mandioca que parecia o rosto de uma pessoa e daí pensei em fazer uma estátua daquilo, peguei e fiz e ficou muito bonito”, conta a artista. 

Ela enfatiza que as pessoas que adquiriam suas peças que as nomeavam de ‘bugres’ e ‘bugrinhos’. “Faço bugrinhos brancos, morenos, com as mãos para trás, com as mãos erguidas”, ressalta ela na produção de Cândido. 

Alcance – O documentário a respeito da obra de Conceição reúne depoimentos de pesquisadores e colecionadores de sua arte, como do publicitário e pesquisador de arte brasileira Edmar Pinto Costa, que possui a maior coleção de peças da artesã.   

Gilberto Luiz Alves, pesquisador da arte regional de Mato Grosso do Sul, enaltece a obra de Conceição e destaca diferenças entre as peças produzidas por ela e as feitas pelo marido Abílio e o neto Mariano Antunes Cabral Silva. No documentário do Fazendo Arte, Mariano fala a respeito da convivência com a avó na infância, quando a ajudava com as peças e porque decidiu dar continuidade à produção dela. 

Vilma Eid, diretora artística da Galeria Estação comenta sobre exposição dos bugrinhos de Conceição, realizada no local em 2017 com curadoria de Miguel Chaia, que resultou no catálogo ‘Conceição dos Bugres’. Já Fernando Oliva e Amanda Carneiro, curador e curadora-assistente do Masp, comentam peculiaridades das obras da artista, expostas ali entre maio de 2021 e janeiro de 2022. 


Mariano deu continuidade à produção da avó Conceição dos Bugres

Fruto de uma investigação jornalística intensa, o livro ‘Conceição’ foi escrito pela jornalista Tainá Jara como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da UFMS, em 2012. A publicação é destacada na produção, assim como a obra ‘Poética dos bugres: Uma incursão sobre arte, identidade e o outro’ (2018), de autoria da cientista social e pesquisadora Isabella Banducci Amizo, resultante de dissertação do mestrado em Estudos de Linguagens, também da UFMS. 

Fazendo Arte – As artes são formas de expressão criadas através de inúmeras formas e materiais e, de acordo com a vontade do artista, se transformam em grandes produções. Para valorizar esse universo, a TV ALEMS implantou em sua grade de programação o programa ‘Fazendo Arte’, que vem exibindo documentários sobre artistas e movimentos que enriquecem a cultura sul-mato-grossense. 

Produzido e apresentado pelo jornalista João Humberto, o programa pode ser assistido na TV ALEMS (canal 9 da NET) nas segundas às 13h30, quartas às 17h15, quintas às 18h e sábados às 10h15.

Veja o programa na íntegra:


 

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