Faz sete dias hoje que o líder indígena Domingos Veríssimo Marcos retornou à Deus

03/05/2005 - 14:53 Por: Assessoria de Imprensa/ALMS   

O tempo nublado em Campo Grande na terça-feira, 26 de abril, para os indigenistas, para os índios e, em especial, para o povo terena teve um significado diferente ao da previsão do tempo, a natureza manifestava seu agradecimento e tristeza pelo passamento do grande líder indígena Domingos Veríssimo Marcos, que aos 80 anos de idade, lutava heroicamente contra um câncer, com a mesma bravura como sempre lutou e defendeu , os direitos fundamentais de seu povo pelo direito à terra, autodeterminação, cultura e, pelo direito à educação bilingue, em nossa sociedade nacional.
Em abril de 1980, juntamente com Marçal de Souza (Guarani-MS), João Principe (Kadwéu-MS), Josefina (Guato-MS) e os caciques de todas as aldeias e povos indígenas de Mato Grosso do Sul, com a presença motivadora do então líder nacional indígena Mário Juruna, do povo Xavante de Mato Grosso, participou da grande Assembléia Indígena, durante a realização do Primeiro Seminário Sul-mato-grosense de Estudos Indígenistas, organizado pelo Governo do Estado e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Desse evento e com assessoria dos antropólogos, indigenistas e profissionais liberais como Alain Moreau, Roberto Orro, Carmen Junqueira, Yara Penteado, Fernado Altenfelder, Yonne Ribeiro Orro, Margarida Marques, Maria Helena Brancher, Eliezer José Marques, Cândido Alberto da Fonseca e, juristas como Dalmo Dallari, foi criada a primeira ONG genuinamente indígena, a UNI-União das Nações Indígenas, de quem Domingos foi seu primeiro presidente.
A UNI viria dar-lhes sustentação na luta, por quase uma década, para ver garantido os seus direitos fundamentais, como o próprio movimento advogava, na Nova Constituição que se discutia, então, no Brasil. Eram apenas cinco pontos considerados básicos,mas de fundamental importância para a sobrevivência dos povos indígenas brasileiros:
- a) O reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas, como primeiros habitantes do Brasil. A terra para eles é o lugar sagrado onde vivem segundo a sua cultura, onde estão enterrados seus antepassados e onde têm as referências concretas da história de cada povo, como se fosse a sua pátria; b)Demarcação e garantia das terras indígenas, necessária para fixar os limites dos territórios indígenas, cujo prazo estabelecido por lei até 78, tinha sido vencido sem ser obedecido. Por esse motivo é que Domingos Veríssimo Marcos lutava com seus pares para que essa obrigação fosse garantida na nova Constituição.
Como terceiro ponto defendiam o usufruto exclusivo, pelos povos indígenas, das riquezas naturais existentes no solo e subsolo dos seus territórios. A experiência já demonstrou que permitir a entrada de empresas, garimpeiras e mineradoras nas terras indígenas, para explorar as riquezas ali existentes, significa, lastimavelmente, conduzí-los a sua destruição, além de ser roubo descarado. Defendiam, ainda, o reassentamento, em condições dígnas e justas, dos posseiros pobres que se encontravam em terras indígenas. Entendiam os problemas do trabalhadores rurais pobres, porém esses problemas não podiam ser resolvidos com a invasão de suas terras. E, finalmente, defenderam ardentemente o reconhecimento e respeito às organizações sociais e culturais dos povos indígenas, com seus projetos de futuro, além das garantias da plena cidadania.
Sua perseverança na luta pelo seu povo inclui a discussão sobre o Projeto de Lei n° 2.057/91, que institui o Estatuto das Sociedades Indígenas tendo contato direto com o Instituto de Estudo Sócio-Econômico (INESC), através dos seus amigos Elcio e Edelci, com o CIMI, através de Saulo e com o assessor jurídico da Câmara Federal, Paulo Machado Guimarães.
Enfim, o líder indígena Domingos Veríssimo Marcos, já com 80 anos, foi um herói de sua época. Aliás, até os dias de hoje respondia pela UNI-Regional, instrumento que lhe dava a retaguarda para perseguir seu ideal, que era através da educação, assegurar aos povos indígenas a sua identidade e a sua autonomia enquanto povo.
O Capitão Domingos, como era conhecido pelos índios, foi seputaldo na quarta-feira, dia 27 de abril, em Campo Grande, no cemitério Jardim das Palmeiras. E, certamente já se encontrou no céu com Marçal de Souza, Marta Guarani, João Príncipe, e tantas outras lideranças que viveram e morreram com a sublime missão, de lutar para que os povos indígenas do Brasil, fossem respeitados e tivessem garantidos os seus direitos. (Pola Maria)
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