Desembargador diz que PCC adota estratégias militares

O desembargador e presidente da Seção de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Antonio Carlos Viana Santos, disse nesta sexta-feira (17/10) que o Primeiro Comando da Capital (PCC) adota desde a sua formação estratégias militares que permitem a manutenção das atividades criminosas mesmo com a prisão dos chamados "soldados" - membros que atuam na "linha de frente" da organização.

Santos explicou, em palestra durante o 4º Fórum Internacional de Justiça (FOR-JVS), que o PCC surgiu em 1993 na Casa de Custódia de Taubaté, no Vale do Paraíba, inspirado nas quadrilhas que tomam conta do tráfico no Rio de Janeiro, como o Comando Vermelho. "O PCC sempre teve organização semelhante à militar, o que lhe permitiu 'exportar' suas atividades, financiadas pelo tráfico, para outros estados, como Paraná e até Mato Grosso do Sul", afirmou.

Segundo o desembargador, a estrutura do grupo funciona perfeitamente dentro e fora dos presídios. "Até as mulheres dos detendos cuidam dos livros-caixas", informou, lembrando que ficar detido representa mais status aos líderes do grupo, não impedindo novas negociações e crimes.

Para Santos, um exemplo recente do poder de atuação das organizações criminosas foi o assassinato, ontem (16/10), do diretor do presídio de segurança máxima Bangu 3 (zona oeste do Rio), tenente-coronel José Roberto do Amaral Lourenço. "Foram 62 tiros disparados contra ele e não há dúvida de que as ordens partiram do presídio", disse. A suspeita é que o assassinado de Lourenço tenha sido em retaliação a mudanças nas regras da unidade, que passaram a ser mais rígidas.

O desembargador apontou o enfraquecimento do poderio econômico - com confisco de bens - e a interceptação de ligações telefônicas como instrumentos eficazes para desmantelar operações do PCC.

Santos também falou sobre a proliferação da pedofilia com o advento da internet e cobrou leis mais rígidas para os agressores de crianças e adolescentes.