Pedofilia:300 crianças são violentadas por ano em Campo Grande

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Delegada Regina Márcia Rodrigues
10/05/2010 - 17:20 Por: Fabiana Silvestre    Foto: Roberto Higa

Pelo menos 300 crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual todos os anos em Campo Grande, segundo informou nesta segunda-feira (10) a delegada titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) Regina Márcia Rodrigues.

Desse total, 90% dos casos têm como agressores pais ou pessoas do convívio íntimo das vítimas, como tios, padrastos ou vizinhos. "É uma triste realidade, com quase um caso registrado por dia ao longo do ano", disse Regina, durante audiência pública que iniciou as atividades da Semana Estadual de Combate à Pedofilia, na Assembleia Legislativa.

Para ela, somente o engajamento de pais e profissionais que convivem com as crianças e adolescentes, como professores, médicos, dentistas, entre outros, pode reverter as estatísticas e garantir a integridade sexual das crianças - direito também previsto na Convenção Internacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1989.

Metendo a colher

O receio de "meter a colher" na vida alheia não pode ser desculpa para deixar de denunciar atos de violência. Regina lembrou que os casos podem ser relatados de forma anônima, por meio do Disque 100 (serviço nacional) ou do telefone 67 3385-3456 (em Campo Grande).

"É muito complicado porque as pessoas se recusam até a aceitar que aquilo está acontecendo, o que muitas vezes impossibilita o atendimento; temos que mudar isso e incentivar as denúncias", disse a delegada. O agressor pode pegar de 6 meses a 15 anos de reclusão, dependendo da gravidade do caso.

Segundo Regina, outra preocupação é tirar a criança ou adolescente vítima do convívio com o agressor. "Se o caso ainda está sob investigação, encaminhamos a criança ao Conselho Tutelar", explicou.

Perigo dentro de casa

A psicóloga Rosilene Gisoato, da PUC-Paraná, lembrou que o pedófilo age quase sempre de forma sutil e premeditada e que, portanto, pais e demais familiares devem estar atentos a mudanças de comportamento dos meninos e meninas. "Há meninos que não conseguem sentar direito na cadeira, durante a aula, outros que se isolam; são atitudes que nos servem de alerta", disse.

Há ainda casos de famíliares que, por medo, fazem "vista grossa" à violência. "Tive casos de mães que se enganam para não enfrentar a realidade ou mesmo ter que deixar o marido, que muitas vezes garante o sustento da casa; é uma situação muito difícil", reiterou.

Rosilene explicou que, embora as famílias tenham informação sobre os tipos de violência, muitas vezes ignoram que possa acontecer algo tão próximo. "Sempre se acha que a violência não vai acontecer na minha igreja, na minha casa, quando, na verdade, pode acontecer sim e acontece em 90% dos casos", alertou.

Estimativas citadas pela psicóloga revelam que
165 crianças ou adolescentes são violentados sexualmente todos os dias no Brasil.
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