Crack avança sobre Mato Grosso do Sul; Governo prevê ações

Imagem: Consumo de crack e outras drogas tem causado grandes transtornos em toda a estrutura social.
Consumo de crack e outras drogas tem causado grandes transtornos em toda a estrutura social.
10/02/2012 - 11:41 Por: Talitha Moya    Foto: Divulgação

Um relatório divulgado no fim do ano passado pela CNM (Confederação Nacional de Municípios) apontou que 68 dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul enfrentam problemas com o crack. A pesquisa, que abrangeu 4,4 mil cidades brasileiras, revela o avanço do uso de drogas no País. Segundo o presidente da entidade, Paulo Ziulkosk, o Estado está mais suscetível ao problema devido à proximidade com a fronteira. “O efetivo policial ainda é baixo em relação à grande extensão territorial e pouco treinado para enfrentar a dinâmica do tráfico de drogas", ressalta.

De acordo com Ziulkosk, para enfrentar o uso do crack e outras drogas nos municípios são necessárias ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde dos usuários, assim como repressão à circulação de drogas. "O envolvimento e a participação da sociedade são fundamentais para a política de enfrentamento ao crack e outras drogas", afirma.

Em todo o País, o levantamento feito pela CNM revela que o consumo de crack e outras drogas tem causado grandes transtornos em toda a estrutura social, principalmente na área da saúde. Outro setor bastante afetado é a segurança, com o aumento de furtos e roubos, falta de policiamento em áreas de vulnerabilidade e crescimento da violência intrafamiliar, doméstica e rural. Quase 38% dos municípios apontam a educação como uma área diretamente atingida com a presença do crack. Entre a queixa mais incidente está o tráfico de drogas nas escolas por meio dos alunos.

Para especialistas no assunto, o crack já é considerado uma epidemia no Brasil. Na opinião do médico psiquiatra Ronaldo Laranjeira, responsável por uma das poucas pesquisas sobre a droga no País, é preciso investimento para aumentar a capacidade assistencial aos usuários. "Um terço dos jovens morre após cinco anos de uso do crack. Eles precisam de assistência", diz.

Falta de atendimento - A falta de atendimento aos usuários ainda é a principal dificuldade enfrentada pela maioria dos estados brasileiros. Em Mato Grosso do Sul, poucas unidades do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) estão qualificadas para atendimento.

Para uma pessoa viciada em crack ter a chance de recuperação, necessita, ao menos, de 90 dias de internação, dependendo do seu estado de saúde, como explica o diretor administrativo do Hospital Nosso Lar, Sílvio Pereira de Moura. A entidade é uma das referências em atendimento a usuários de álcool e drogas e chega a receber mais de 200 pacientes por mês, sendo 47% do interior do Estado.

Segundo Moura, o tratamento depende, principalmente, do envolvimento da família do usuário. "Após a internação, o retorno para casa é a parte mais difícil. Muitas pessoas não encontram apoio familiar e acabam voltando para as drogas", conta o diretor.

A primeira etapa do tratamento, frisa Sílvio, é o período da desintoxicação para então passar por todo o processo de consultas com psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e nutricionistas. "A gente tenta a ressocialização da pessoa, devolvê-la em uma situação digna. É gratificante quando ouvimos depoimentos de superação", observa.

No Brasil, a circulação do entorpecente já fez mais de um milhão de usuários, segundo levantamento do Ministério da Saúde. A vítima do crack é pobre, tem baixa escolaridade e possui entre 20 e 40 anos de idade, gasta todo o dinheiro que tem para consumir a droga, não tem acesso a tratamento e geralmente não costuma abandonar o vício por problemas de saúde.

Plano - Em dezembro de 2011, o Governo Federal lançou o “Plano Nacional Crack, é Possível Vencer”. Uma das regras do programa foi tornar a internação compulsória uma política pública de combate às drogas. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, serão criados 308 consultórios de rua, com médicos, psicólogos e enfermeiros, que farão busca ativa de dependentes e avaliarão a necessidade de internação voluntária ou compulsória dos pacientes.

Ainda dentro do programa federal, que prevê investimentos de R$ 4 bilhões até 2014, está prevista a ampliação de mais 3,6 mil leitos na rede de assistência aos usuários de crack e outras drogas no SUS (Sistema Único de Saúde). Até lá também serão criados 2.462 novos leitos e outros 1.138 serão qualificados para se tornarem enfermarias especializadas em álcool e drogas.

Na primeira etapa do plano, o governo firmará parceria com oito estados para ações de enfrentamento ao crack, além de aumentar a oferta de tratamento a dependentes de drogas. Por enquanto, Mato Grosso do Sul não está entre os primeiros estados beneficiados. De acordo com o secretário de Justiça e Segurança Pública do Estado, Wantuir Jacini, os municípios sul-mato-grossenses devem ser incluídos no programa a partir do segundo semestre deste ano.

A expectativa é que o programa seja lançado no Estado em junho, período em que Mato Grosso do Sul tem sua agenda marcada pela Semana de Enfrentamento e Combate ao Crack. A iniciativa, criada por lei no ano passado pelo deputado Eduardo Rocha, líder do PMDB na Casa, tem o objetivo de conscientizar a sociedade em geral acerca dos nefastos efeitos que o crack exerce no organismo, bem como de seu alto poder destrutivo no contexto familiar e na comunidade de uma maneira geral.
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