Construções sustentáveis inovam e beneficiam o meio ambiente

Imagem: Casa de taipa usa barro armado com estrutura de ripas de madeira ou bambu, formando um gradeado.
Casa de taipa usa barro armado com estrutura de ripas de madeira ou bambu, formando um gradeado.
09/03/2012 - 14:25 Por: Talitha Moya    Foto: Divulgação

O uso de alternativas sustentáveis nas construções tem sido a saída de muitos profissionais conscientes para causar menos danos ao meio ambiente. Na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, um projeto desenvolvido por uma pesquisadora na área de arquitetura propõe reduzir os estragos na natureza e garantir dignidade social para a população mais carente.

A ideia parte de um processo milenar de construção que é a casa de taipa. A técnica consiste no barro armado com uma estrutura de ripas de madeira ou bambu, formando um gradeamento, cujos vazios são preenchidos com barro amassado. “O objetivo é resgatar essa técnica e sensibilizar a comunidade da área rural para o uso desse recurso e assim evitar que materiais da cidade sejam levados para esses locais”, afirma a arquiteta e professora responsável por coordenar o projeto na UFMS, Andrea Naguissa Yuba.

Segundo a pesquisadora, esse tipo de construção ficou discriminada durante tempos. “As pessoas ligam esse material à pobreza, como uma técnica primitiva, mas ela consegue o mesmo acabamento do que o convencional e quando recebe pintura, nem é possível distinguir se a casa é feita de terra ou tijolo”, detalha.

Com a prática sustentável, Yuba espera ainda criar novas perspectivas na população rural. “A partir desse material, é possível dar autonomia a essas famílias para construir suas próprias casas sem custos”, explica.

Para a arquiteta, a consciência em relação ao uso de recursos sustentáveis nas construções melhorou nos últimos anos, mas as ações que viabilizam essa prática ainda não avançaram. “Falta o poder público incentivar as pessoas e difundir o caminho para a sustentabilidade”, ressaltou.

Alguns condomínios instalados na Capital já têm adotado mecanismos para o uso racional de água, por exemplo. Prédios mais recentes passaram a contar com o recurso de hidrômetros individuais que permitem a economia substancial de água em todo o condomínio. “O certo seria que aparelhos de medição de água ou energia ficassem dentro de casa para que o morador pudesse sempre acompanhar e assim controlar o uso”, indica a pesquisadora.

Sustentabilidade x Tradicional

Mesmo com alternativas sustentáveis sendo adotadas pelos condomínios, Andrea diz que o Brasil está longe de ser um país eficiente quando se trata da maneira de construir. Conforme ela, as construtoras ainda não estão preocupadas com a sustentabilidade e continuam reproduzindo o tradicional. “Apesar da qualidade nas construções, não avançamos e continuamos a gerar toneladas e toneladas de entulho”, declara.

A construção civil, frisa a professora, continua entre as atividades humanas que mais causam impactos ambientais no mundo. Segundo dados da ANAB (Associação Nacional de Arquitetura Sustentável), o setor é responsável pelo consumo de cerca de 40% dos recursos naturais e da energia produzida, 34% da água, 55% de madeira não certificada, além de responder pela produção de 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos.

Na opinião de Andrea, o mercado ainda não se atentou para o fato de atender pessoas que já estão mais conscientes sobre a questão ambiental. Um dos problemas que faz do setor o maior vilão do meio ambiente é, de acordo com a arquiteta, o desperdício de materiais devido à falta de preparo dos profissionais. “A construção civil tem que se organizar e exigir do poder público federal uma política de capacitação e qualidade da mão de obra porque isso é um problema generalizado”, argumentou.

Para os cidadãos que desejam reduzir gastos e contribuir com a natureza, boas alternativas sã as estruturas para captação de água da chuva e aquecedores solares. A professora cita o aproveitamento da luz natural dentro de casa como a mais comum. “O uso da luz solar já não é um problema tão intenso no Brasil porque aqui já é cultural construir casas com várias janelas e todas grandes, ao contrário de outros países”, revela.

Reaproveitamento da água de chuva

O 3º secretário da Assembleia Legislativa, deputado Felipe Orro (PDT), é autor de um projeto de lei que dispõe sobre o reaproveitamento de água da chuva na construção de habitações populares. Ele aponta que a proposta objetiva a reutilização da água para consumo não potável. “O uso racional das águas pluviais, sobretudo se constitui em mecanismo para diminuir o consumo de gastos com água atendida pelas concessionárias, beneficiando famílias de baixa renda”.

Orro detalha que os programas de financiamento de casa própria, subsidiados com recursos da administração pública federal, estadual e municipal, no todo ou em parte, ficam obrigados a prover esse sistema por meio de coletor, caixa de armazenamento, distribuidor para água de chuva e dispositivos que permitam a utilização e reaproveitamento da água pluvial. Pelo processo, as caixas de água da chuva devem ser separadas das caixas de água potável.

“É uma alternativa sustentável que pode ser desenvolvida em várias construções. Existem projetos de pesquisa desenvolvidos em mestrados e doutorados visando a captação de águas pluviais para fins domésticos, como limpeza de casa e até na lavagem de roupas. Com certeza é uma medida sustentável que só tende a beneficiar o meio ambiente e o bolso do consumidor”, conclui o pedetista.
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