Ex-deputado federal depõe sobre tortura e perseguição política

Imagem: Ex-deputado federal Manoel Vitório foi perseguido político durante os anos 1970 e 1980.
Ex-deputado federal Manoel Vitório foi perseguido político durante os anos 1970 e 1980.
06/05/2013 - 14:41 Por: Marcelo Pereira    Foto: Marcelo Pereira

A Comissão de Trabalho, Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e o CMVJ/MS (Comitê Memória, Verdade e Justiça de Mato Grosso do Sul) interrogam nesta terça-feira (7/5) o ex-deputado federal Manoel Vitório (PT-MS) que foi perseguido político durante os anos 1970 e 1980. A oitiva acontecerá na Casa de Leis, às 14h, e será aberta ao público.

O objetivo do encontro é reunir subsídios para elucidar violações dos direitos humanos envolvendo o Poder Público que ocorreram no período de 1946 a 1988 em Mato Grosso do Sul e a produção de um relatório que será produzido e encaminhado para a Comissão Nacional da Verdade e órgãos do governo para executar medidas de reparação de direitos, entre outras, para aperfeiçoamento das instituições do Estado.

Manoel Vitório, que exerceu o mandato de deputado federal entre os anos 2000 e 2002, foi um dos militantes clandestinos do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) em Corumbá e um dos fundadores do PT (Partido dos Trabalhadores) nos anos 1970. Além disso, desempenhava intensa atividade política em sindicatos. No entanto, a situação se agravou quando ingressou na carreira militar, na Marinha do Brasil, em 1975.

No ano de 1978, Manoel Vitório explica que foi enviado de Corumbá para Santa Catarina e permaneceu detido preso no presídio militar em regime de prisão rigorosa por dez dias. Ele descreve ter recebido uma pancada forte na cabeça e, logo em seguida, perdido a consciência. Ele recebeu injeções de substâncias conhecidas como “soro da verdade” e, ao acordar, percebeu marcas, escoriações e hematomas por todo o corpo. Algumas dessas marcas estão presentes até hoje.

“Os procedimentos de tortura, combinado com isolamento e o uso de substâncias injetáveis, fizeram com que eu perdesse a noção do tempo. Quando recobrei a consciência e notei a data, já havia passado 33 dias desde o início da tortura”, destaca Manoel Vitório, que foi fuzileiro naval até ser forçado a sair da Marinha.

O retorno à Marinha do Brasil aconteceu dois anos depois, em 1980. Mais uma vez Manoel Vitório afirma ter sofrido novamente outra perseguição entre os anos 1984 e 1986 quando novamente foi obrigado a pedir exoneração. Além disso, ele destaca que até mesmo as atividades sindicais dentro da Federação Independente dos Trabalhadores sobre Trilhos e no Sindicato dos Ferroviários de Bauru e Mato Grosso do Sul, onde foi vice-presidente entre 1990 e 1994, sofreu retaliações.

Manoel Vitório explica que perdeu parte da audição devido à tortura ao qual foi submetido, além de parte da visão. O desaparecimento de documentos do período em que exerceu a atividade de fuzileiro naval prejudicou a sua aposentadoria.

O ex-deputado de Manoel Vitório será o terceiro interrogado. Os primeiros foram Sérgio Onça e Haroldo Borralho, fundadores do Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul. A condução dos trabalhos será realizada pelo deputado estadual Laerte Tetila (PT), presidente da Comissão de Trabalho, Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e membros do CMVJ/MS, que é formado por entidades como a OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Mato Grosso do Sul), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o Diretório Central dos Estudantes da UFMS (Universidade Federal de MS), o Centro de Defesa dos Direitos Humanos “Marçal de Souza”, a CUT/MS (Central Única dos Trabalhadores de MS), o Centro de Documentação e Apoio aos Movimentos Populares; Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, a Fundação Perseu Abramo, a Fundação Maurício Grabois, a Fundação Astrogildo Pereira, a Fundação Ulisses Guimarães e a Diretoria de Direitos Humanos da UNE (União Nacional dos Estudantes).
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