Exemplo de superação, jovem com Down é orgulho da mãe

Imagem: Irma com o filho Cirilo que, apesar da Síndrome de Down, encontrou portas abertas para o trabalho na Assembleia Legislativa.
Irma com o filho Cirilo que, apesar da Síndrome de Down, encontrou portas abertas para o trabalho na Assembleia Legislativa.
17/05/2013 - 16:45 Por: Nathália Barros    Foto: Arquivo

Há pouco mais de 24 anos, Irma e o marido se preparavam para ter o primeiro filho. “Nós estávamos muito ansiosos. A minha gestação foi tranquila. Queríamos muito que Cirilo nascesse logo”, recorda. Tanta ansiedade chegou ao fim no dia 10 de outubro de 1988. “Nossa, foi muita alegria”, relembra, na época, mãe de primeira viagem.

Mas, horas depois, veio o choque. “O médico assistente do meu parto, grande amigo da família e que tinha um filho com Síndrome de Down, logo constatou que nosso filho também tinha nascido com a síndrome. Naquela hora fiquei sem chão, desnorteada”, lembra Irma.

Com o apoio do amigo médico e auxilio psicológico, Irma considera que o processo de “aceitação” foi rápido. “É claro que no princípio eu e meu marido ficamos confusos, sem saber como lidar com a situação. Mas, com tanta gente dando suporte, logo encaminhamos o Cirilo para tratamento adequado”.

Empenhada em garantir que o filho pudesse desfrutar de uma vida normal, Irma ficou conhecida em Coxim como a “pioneira da inclusão”. Aos 12 anos Cirilo foi matriculado em uma escola regular. “Queria que ele vivenciasse tudo que uma criança dita 'normal' pode desfrutar. Portanto, sempre o levei para confraternizações, festas, enfim, tudo que pudesse proporcionar bons momentos para ele”, comenta.

Há sete anos, Cirilo e a família saíram de Coxim rumo a Campo Grande. Na Capital, ele foi matriculado na Escola Juliano Varela, especializada em pessoas com Síndrome de Down. Muito ativo, se envolveu em diversas atividades. Aos 20 conheceu o projeto de inclusão no mercado de trabalho e traçou uma meta. “O que ele mais queria era trabalhar. O problema é que a maioria das oportunidades que surgia era em frigoríficos e similares, então não permitia”, confessa a mãe.

Mas, um convênio firmado entre a Assembleia Legislativa e a Escola Juliano Varela, em maio de 2012, mudou essa história.

“Quando surgiu a oportunidade de ele ir para a Assembleia me senti realizada. Poderia realizar o sonho dele e, ainda por cima, ficar tranquila”, desabafa Irma. “Hoje ele é mais confiante. Gosta muito do emprego e faz questão de dizer para todos que trabalha na Assembleia Legislativa. Isso me deixa muito orgulhosa”, conclui.

Conforme a psicóloga da Escola Juliano Varela, Alessandra Maciel Gonçalves, para quem tem Síndrome de Down, o momento mais conturbado é a adolescência. “Nesse período eles começam a ter consciência de que não são iguais aos outros. Entretanto, têm o desejo de conquistar objetivos, assim como quem não convive com o problema. Para que consigam se sentir como parte comum da sociedade, o trabalho é fundamental”, avalia a psicóloga.

Mesmo com a dicção comprometida, característica comum da síndrome, Cirilo não se inibe. Enquanto era entrevistado, fez questão de mandar uma mensagem para a mãe: “Mãe querida que eu amo. A senhora é muito especial e eu quero que a nossa família fique junta para sempre”.

“Acredito ser privilegiada. Escolhida por Deus. Afinal de contas, ser mãe do Cirilo é sinônimo de crescimento constante. Aprendo a cada dia. Não sei o que seria de mim sem ele”, comenta emocionada ao lembrar do trajeto percorrido até hoje. “Meu maior objetivo não é ter riquezas ou coisa parecida, mas saber que contribuí para a felicidade dos meus filhos, em especial a do Cirilo”, desabafa.

Na Assembleia Legislativa - Os olhos de formato amendoado e o nariz achatadinho são algumas das características que evidenciam que Cirilo é portador da Síndrome de Down, mas não é isso que faz com que ele se destaque em meio à multidão. Com uma energia diferente, Cirilo, que é um dos três jovens com a síndrome que trabalham na Casa de Leis, é conhecido pelos servidores da Assembleia Legislativa pela alegria, disposição e autenticidade.

“Ele é um garoto muito esperto e dócil. Tudo o que peço ele atende. Sempre muito interessado”, define Roberto Teixeira Júnior. Chefe do protocolo geral e, consequentemente, chefe de Cirilo, Júnior acredita que “tantas qualidades são o reflexo da criação”.

Síndrome de Down - As crianças com Síndrome de Down possuem algumas características físicas específicas, que podem ser observadas pelo médico para fazer o diagnóstico clínico. Nem sempre a criança com a síndrome apresenta todas as características. Algumas podem ter poucas, enquanto outras podem mostrar a maioria das características, que são: inclinação das fendas palpebrais; pequenas dobras de pele no canto interno dos olhos; língua aumentada e proeminente; achatamento da parte de trás da cabeça; ponte nasal achatada; orelhas menores; boca pequena; tônus muscular diminuído; ligamentos soltos; mãos e pés pequenos; pele na nuca em excesso; palma da mão com uma linha cruzada (linha simiesca) e distância entre primeiro e segundo dedo do pé aumentada.

Frequentemente essas crianças apresentam malformações em órgãos desde seu nascimento: do coração, atingindo 30% dos portadores de Síndrome de Down; do trato gastrointestinal, como estenose ou atresia do duodeno, imperfuração anal e doença de Hirschsprung; perda auditiva condutiva; problemas de visão; alguns tipos de leucemia que acabam incidindo com mais chances nos downs, além do desenvolvimento de características neuropatológicas da doença de Alzheimer em uma idade muito mais precoce.

* No mês em que é comemorado o Dia das Mães, o portal de notícias da Assembleia Legislativa presta homenagens a todas as mães do Estado por meio de histórias como a de Irma, que mostram a força da palavra “Mãe”. As matérias estão sendo postadas às sextas-feiras até o fim de maio.
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