Dinheiro garante poder de criminosos, diz delegado paulista

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Dinheiro garante poder de criminosos, diz delegado paulista
17/10/2008 - 11:13 Por: Edivaldo Bitencourt    Foto: Higa

"O importante é deixar o criminoso sem dinheiro. Seu poder está no dinheiro", afirmou o delegado de classe especial e diretor do Departamento de Polícia do Interior de Ribeirão Preto (SP), George Henry Millard, durante a palestra no Fórum Internacional de Justiça (FOR-JVS 2008). Com a participação de representantes de 40 países, o evento termina nesta sexta-feira no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo.

Ele disse que o Brasil vem mantendo uma tarefa difícil e árdua na luta contra o crime organizado. "Para ganhar a guerra, temos que tirar o lucro do crime", defendeu, citando a subtração e o sequestro de bens como pilar da política para acabar com as organizações criminosas no País.

Millard falou sobre o narcotraficante brasileiro Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, preso no Presídio Federal de Campo Grande, que mesmo estando no regime disciplinar diferenciada (RDD), ainda mantém controle da quadrilha. "O poder está no dinheiro", destacou. Durante a palestra, ele citou que o faturamento do narcotraficante foi de US$ 6,5 milhões (R$ 13,5 milhões na cotação atual) em 2000.

Beira-mar, conforme o delegado, aliou-se aos guerrilheiros das Farc, da Colômbia, para trocar armas por drogas. O tráfico de drogas é a atividade criminosa mais lucrativa no mundo, superando o tráfico de armas, extorsão e tráfico de pessoas. Ele considera Fernandinho Beira-mar como exemplo emblemático de chefe de uma organização transnacional.

Millard contou ainda a história do narcotraficante Leonardo Dias Mendonça, um ex-garimpeiro de 49 anos, que tinha uma frota de 24 aviões para transportar drogas. Na época, descobriu-se que ele contava com o apoio do presidente do Suriname nas operações criminosas.

Para o diretor da Polícia Civil, o terrorismo se financia com as atividades do crime organizado. Na América do Sul, relatório dos Estados Unidos citou quatro organizações terroristas: FARC, ELN, AUC e Sendero Luminoso. O país colombiano é considerado o maior fabricante mundial de cocaína. Em 2006, autoridades policiais estimaram que a produção de cocaína pura chegou a ser de 610 toneladas na Colômbia.

O Brasil já conta, desde 1995, com lei de combate ao crime organizado, apesar de ser considerada genérica demais. Millard citou como exemplo de avanço a Lei do Abate, que coibe os vôos clandestinos. Em decorrência desta medida, os traficantes foram obrigados a adotar novas rotas, que passaram a usar o Paraguai, a Bolívia e a Colômbia como base das operações aéreas. Os bandidos passaram a evitar o espaço aéreo brasileiro, comentou.

Ele afirmou ainda que existe uma indústria do sequestro no País e outros países da América do Sul, para financiar atividades criminosas e terroristas. Citou os sequestros do empresário Abílio Diniz (1989), do publicitário Washington Olivetto (2002), de Cecília Cubas, filha do ex-presidente do Paraguai Raul Cubas (205) e de 7 mil presos políticos pela guerrilha colombiana Farc entre 1996 e 2008.

Na conclusão da palestra, George Henry Millard apresentou as razões para o aumento da criminalidade no Brasil: impunidade, legislação inadequada, rebaixamento de valores morais e ineficácia no combate direto.
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