Taquígrafo: o profissional rápido e quase invisível da Assembleia

Imagem: Cada taquígrafo consegue ler apenas seu taquigrama.
Cada taquígrafo consegue ler apenas seu taquigrama.
29/03/2011 - 09:31 Por: Paulo Fernandes    Foto: Giuliano Lopes

O bom funcionamento da Assembleia Legislativa depende de um profissional rápido e discreto: o taquígrafo. É ele quem registra tudo o que acontece nas sessões ordinárias, audiências públicas e seminários. Tudo em uma velocidade impressionante.

Trabalham na Assembleia Legislativa 11 taquígrafos e um taquígrafo auxiliar, segundo a coordenadora do Serviço de Revisão e Taquigrafia, Maria Dalva Silva. Eles se revezam com a precisão de um relógio, de cinco em cinco minutos para anotar tudo o que é dito nos microfones do plenário. "É uma engrenagem", conta Maria Dalva.

Para fazer esse registro, eles usam a taquigrafia, a arte milenar de, por meio de sinais, escrever as palavras tão rápido quanto elas são pronunciadas. A taquigrafia usa sinais para representar fonemas básicos e outros para indicar as vogais.

Por meio dessa técnica, eles escrevem de 100 a 120 palavras por minuto. A velocidade está no próprio nome "taquigrafia", que vêm do grego “takhus”, que significa rápido.

"Nós anotamos tudo o que acontece. Até quando o deputado para e respira e também as palmas da plateia", conta a taquígrafa Fátima Faria Machado, de 52 anos. "A taquigrafia sai na íntegra. Só tem corte na revisão ou se o orador pedir".

Os taquígrafos têm que ficar atentos não só aos sons, mas também aos gestos dos deputados. "Às vezes, o deputado só acena a cabeça na votação", exemplifica.

A profissão exige muita dedicação. Fátima trabalha na taquigrafia da Assembleia Legislativa há 30 anos. "Estou aqui porque gosto. É uma correria. Tem dia que tem sessão ordinária, audiência pública e ainda congresso e temos que ficar até a noite", diz.

Fátima se interessou pela arte da escrita rápida ao ler sobre a profissão e resolveu fazer um curso no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

Existem vários métodos de taquigrafia e variações dentro de cada um deles, as convenções. Resultado: cada taquígrafo consegue ler apenas o seu taquigrama.

Delmira Matheus, de 57 anos, usa o método Leide Alves. Ela fez o curso na Assembleia Legislativa de São Paulo e há 31 anos trabalha no parlamento sul-mato-grossense.

"Já nasci com essa vocação. Tem que ter aptidão e persistência. É preciso treinar todo dia para não perder a velocidade", afirma.

Ela conta que apesar da taquigrafia ser milenar, a maior parte da população desconhece a profissão e muitos sequer notam a presença dos profissionais nas sessões legislativas, mesmo entrando e saindo do plenário a todo momento.

E quando a sessão acaba, o trabalho continua. Os taquígrafos "traduzem" tudo o que foi escrito e o material segue para revisão. A revisão também faz parte do setor de taquigrafia.

O material vai para seis revisores (três finais e três de edição), segue para mais cinco revisores que passam tudo para o computador e finalmente por três duplas de confrontistas.

Os confrontistas são os responsáveis por comparar o trabalho antes e após a revisão. Enquanto um lê em voz alta uma das versões, o outro acompanha com os olhos a outra.

Além disso, quando há audiência pública ou seminário, outros dois profissionais entram em cena: os roteiristas. Eles anotam os nomes dos visitantes e a sequência das falas.
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