Novas denúncias contra construtoras chegam à CPI

Imagem: Diretor da MRV se defende das acusações de irregularidades.
Diretor da MRV se defende das acusações de irregularidades.
09/11/2011 - 17:34 Por: Talitha Moya    Foto: Roberto Higa

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apura as supostas irregularidades de construtoras instaladas em Campo Grande anexou novas acusações ao seu relatório.

Entre os depoentes desta quarta-feira (9/11), os membros da comissão ouviram o escrivão da Polícia Civil, Luiz Carlos Botelho, que denunciou a MRV Engenharia por trabalho escravo.

Há oito meses, Botelho conta que constatou trabalhadores da construtora em situação desumana no bairro Arnaldo Estevão de Figueiredo. De acordo com o escrivão, entre 15 e 20 homens estavam alojados de forma inapropriada em um imóvel de dois quartos e chegavam a dormir no chão apenas em cima de um edredom. “Eles me pediram ajuda, a maioria era analfabeto e não conheciam seus direitos”, afirmou.

Segundo Botelho, os trabalhadores eram de outros estados e vieram para a Capital com a promessa de serem registrados e receberem bons salários. “No final, eles se depararam com salários até pela metade, sem carteira assinada e após dois meses eram mandados embora, muitos nem tinham condições de retornarem para suas casas”, detalhou. “Eles relataram ainda que não podiam nem faltar ao trabalho por motivos de doenças, se não recebiam punições da empresa”, destacou Luiz.

Na época, o escrivão chegou a registrar a denúncia na Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) por meio da Corregedoria-Geral e até mesmo na própria delegacia em que trabalha. “Até hoje, nada foi feito e, na minha opinião, o que eu constatei é crime de escravidão”, declarou.

A MRV também foi alvo de denúncia do trabalhador Estevão Villalba Filho que também prestou depoimento na CPI. O jovem de 20 anos atuou durante um pouco mais de um mês como auxiliar de almoxarifado na empresa e foi mandado embora. “Acredito que há um rodízio de funcionários, é ruim porque muitos (trabalhadores) acham que é uma coisa e quando veem não tem o retorno esperado”, disse.

O diretor de relações institucionais da MRV, Sérgio Túlio Vieira, defendeu a empresa das acusações. Conforme o representante, a construtora é obrigada a contratar mão de obra de empresas terceirizadas devido a grande demanda nacional, já que atua em 18 estados brasileiros. “A contratação por meio dessas empreiteiras possibilita maior rapidez no processo, já que recrutar pessoas e entender a dinâmica do local é bem complicado”, detalhou.

Vieira ainda assegurou que o rodízio de funcionários na construção civil é bastante comum, pois a necessidade de mão de obra é muito significativa e o ritmo de produção exige experiência. “Infelizmente, não podemos controlar a gestão que cada terceirizada tem com seus funcionários”, admitiu.

Sobre atrasos ou falta de pagamento aos trabalhadores, o diretor garantiu que a MRV não tem qualquer problema relacionado. Segundo ele, o único caso registrado até o momento envolve a terceirizada Metale. “Nós pagamos tudo corretamente para a empresa, mas soubemos por meio da mídia que a empreiteira tinha abandonado o mercado e não havia pago os seus funcionários”, contou Sérgio, que ficou de apresentar à comissão um relatório especificando os pagamentos efetuados aos trabalhadores.

Na opinião do presidente da CPI, deputado Maurício Picarelli (PMDB), a principal preocupação das investigações é em relação às responsabilidades das empresas de fora do Estado que contratam subempreiteiras para recrutarem mão de obra. “Vamos apurar e se constatarmos irregularidades, elas serão punidas”, adiantou.

Picarelli dirigiu a reunião acompanhado dos demais membros da comissão: o vice-presidente, deputado Antônio Carlos Arroyo (PR); o relator Onevan de Matos (PSDB), e o deputado Junior Mochi (PMDB), que é membro.
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