Docentes federais em greve criticam desinteresse pela educação

Imagem: Professor Paulo Paes discursou durante audiência e expôs realidade das universidades federais.
Professor Paulo Paes discursou durante audiência e expôs realidade das universidades federais.
22/08/2012 - 17:32 Por: Talitha Moya    Foto: Roberto Higa

“O Governo Federal quer formar mão de obra barata para as indústrias, o comércio e a agricultura. Não há interesse no conhecimento científico, não há valorização da universidade”, disse Paulo Paes, professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e membro do Comando Geral de Greve durante audiência pública na Assembleia Legislativa.

O encontro aconteceu na tarde desta quarta-feira (22/8) e reuniu servidores e estudantes das universidades e institutos federais do Estado, com a parceria dos deputados Laerte Tetila e Pedro Kemp, ambos do PT. Em greve há mais de dois meses, as categorias se uniram para pedir atenção à educação brasileira. “Nossa greve não é só pela questão salarial, a nossa indignação é com a situação precária das universidades do País. Não há estrutura e os repasses orçamentários para a educação demonstram esse desrespeito absoluto que enfrentamos”, afirmou Paes.

Professor há 25 anos, ele expôs a principal necessidade dos docentes. “Mais do que salário, precisamos de um plano de carreiras e a proposta apresentada pelo governo não atinge nem sequer a equiparação que tínhamos há uma década”, ressaltou.

Na opinião de Paulo, há um descaso pela educação. “Se não melhorarmos a qualidade da universidade agora, seremos transformados em escolões, como muitos que existem por aí que não têm o intuito de gerar conhecimento, mas sim de administrar um potencial básico de habilidades apenas para criar profissionais a serem explorados nas fábricas, na agricultura, no comércio”, disse.

Em todo o País, aproximadamente 60 mil docentes aderiram à greve por melhores condições de trabalho. A categoria recusou a última proposta apresentada pelo Governo Federal. O momento, define o professor João Nackle Urt, da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), é de crise democrática. “A greve é muito ruim para os professores, não há satisfação nenhuma com essa paralisação. Mas o que garantiram para nós no ano passado, nada foi cumprido”, alegou.

Entre as reivindicações de servidores e estudantes, estão o financiamento público estável e suficiente para melhoria das universidades, preenchimento de cargos ainda vagos e abertura de novas vagas, além de reforma e reestruturação física das instituições.

“Buscamos apoio dos legisladores porque queremos diálogo com o Governo Federal. Dia 31 de agosto vence o prazo da Lei Orçamentária, mas não vence o nosso. O salário não é nossa única preocupação, mas tem ainda a qualidade da educação, a estrutura das nossas universidades e o plano de carreira dos docentes. Enquanto não pudermos apresentar nossa proposta, continuaremos em greve”, declarou Gicelma Chacarosqui, professora doutora da UFGD.

Os deputados Laerte Tetila e Pedro Kemp afirmaram que a partir da audiência será formulado um documento com o objetivo de convocar deputados e senadores da bancada federal do Estado para que atuem como interlocutores para resolver o impasse entre servidores e governo. “A greve é um recurso legítimo da classe trabalhadora e única arma para defender direitos e interesses, portanto reconhecemos a luta desses servidores e suas reivindicações. Estamos articulados com o aval de todos os 24 parlamentares desta Casa em defesa dessa causa”, completou Tetila.
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