Debate traz medidas de sucesso contra drogas em outros países

Imagem: Conforme Denis Burgierman, o Brasil está numa histeria em relação ao uso de drogas e até hoje não fez nada certo.
Conforme Denis Burgierman, o Brasil está numa histeria em relação ao uso de drogas e até hoje não fez nada certo.
30/10/2012 - 22:19 Por: Talitha Moya    Foto: Roberto Higa

"A guerra contra as drogas no Brasil já deu errado e o país continua tomando decisões erradas", disse o jornalista Denis Russo Burgierman, no 1º Seminário de Justiça Terapêutica do Mato Grosso do Sul, que acontece na Assembleia Legislativa. Autor do livro "O Fim da Guerra: sobre políticas contra as drogas", ele citou exemplos de medidas que deram certo em países como Portugal e Holanda que, segundo o escritor, seriam novas possibilidades para o enfrentamento do crack no Brasil.

Para Burgierman, insistir em manter o atual sistema de drogas é um erro que poderá trazer sérias consequências para o País. "O Brasil está numa histeria em relação ao uso de drogas e até hoje não fez nada certo. Há mais pessoas usando drogas, mais crimes relacionados às drogas. Os outros países já mostraram que, com seus modelos 'do futuro', estão tendo resultados diferentes do que os que mantêm o jeito tradicional de lidar com o problema", comparou.

O jornalista conta que viajou por vários países onde conheceu de perto as experiências estrangeiras que atingiram resultados positivos contra o uso das drogas. Entre os exemplos que Burgierman registra no livro está o da descriminalização da droga em Portugal. "Semelhante ao nosso problema com o crack, Portugal há dez anos sofria desesperadamente com o uso de heroína. O que eles fizeram? Não adotaram mais ações de repressão nem mais prisões, mas chamaram especialistas para resolver o assunto e em dez anos reduziram significativamente o problema", relatou.

O escritor citou ainda medidas adotadas pela Espanha e Califórnia, onde há investimentos em pesquisas com maconha para tratamentos médicos e regularização do plantio pessoal da droga para uso próprio. "Eles tiraram a fonte do traficante. Não acho que nenhum desses sistemas é ideal, mas são modelos com particularidades que podem ajudar o Brasil na questão do crack que é uma consequência da proibição ultraradical. Digo que só existe o crack porque há proibição e repressão", frisou.

Presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência e Coordenador Nacional de Combate à Droga em Portugal, João Goulão comentou sobre o novo cenário português em relação às drogas. "A descriminalização do consumo foi uma boa decisão e estamos satisfeitos com a evolução que tivemos, mas tal medida ainda não é a bola de prata que resolve a questão. Junto dela, existe um conjunto de políticas que envolve saúde, o social e novas formas de prevenção por exemplo", destacou.

Goulão afirma que as condições históricas e estruturais de Portugal contribuíram para o resultado positivo e que, apesar do sucesso, o modelo pode não ser compatível com a realidade brasileira. "As questões de escalas são diferentes de país para país. Mas acredito que alguns componentes do modelo podem ser inspiradoras para as autoridades brasileiras, principalmente no quesito saúde que é proporcionar que todos usuários que desejam se tratar recebam atendimento com capacidade e qualidade".

O 1º Seminário de Justiça Terapêutica do Mato Grosso do Sul segue até amanhã e tem como proponente o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jerson Domingos (PMDB), e como co-proponente o juiz federal Odilon de Oliveira. Eles estão à frente do projeto que visa implantar ainda neste ano em Mato Grosso do Sul o primeiro Centro de Tratamento de Dependentes Químicos do País. "Tenho certeza de que este projeto surtirá efeito em pouco tempo. A partir deste seminário, iremos elaborar uma carta traçando os parâmetros com determinados compromissos para serem executados dentro de prazos para iniciarmos o centro", explicou Odilon.

A iniciativa pioneira, afirma Jerson, tende a salvar vidas e a resgatar a auto estima de crianças e adolescentes dependentes, inserindo-os de volta à sociedade de forma digna. "Esse é um sonho não só meu, ou do Odilon, ou das demais pessoas envolvidas nele, mas de toda a população, de todos nós que continuamos acreditando nessa luta. É um projeto sem burocracia que só faz valer a vontade da sociedade", declarou.
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