Comissão interroga perseguidos políticos no Mato Grosso do Sul

Imagem: Fundadores do Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul falaram sobre a perseguição política que sofreram.
Fundadores do Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul falaram sobre a perseguição política que sofreram.
03/04/2013 - 18:00 Por: Marcelo Pereira    Foto: Roberto Higa

A Comissão de Trabalho, Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, presidida pelo deputado estadual Laerte Tetila (PT), e o Comitê Memória, Verdade e Justiça, realizaram na tarde desta quarta-feira (3/4) a primeira oitiva para elucidar violações de direitos no Mato Grosso do Sul. Haroldo Borralho e Sérgio Onça, fundadores do Partido dos Trabalhadores de MS, foram os primeiros interrogados e falaram sobre a perseguição política ocorrida no final dos anos 1970 e início dos anos 1980.

Borralho explica que os militantes de partidos de esquerda eram perseguidos pelo governo. “Eram pressões psicológicas, ligações telefônicas anônimas, ameaças para cancelar eventos partidários ou reuniões políticas e até o local de trabalho recebia agentes e pessoas que mandavam recados para que nós desistissemos dos nossos ideais”, destaca Borralho, que foi vice-presidente do PT de Campo Grande.

Uma das lembranças mais fortes descritas pelos depoentes foi o incêndio na sede do partido. Borralho e Onça afirmaram que o incêndio foi criminoso e uma forma de impedir a organização de partidos políticos de esquerda. Outro aspecto apontado pelos depoentes foram as formas de ameaça psicológica, como a utilização de carros para seguir militantes na saída de reuniões para descobrir onde essas pessoas moravam.

O deputado estadual Laerte Tetila explica que os depoimentos mostraram uma nova história de Mato Grosso do Sul pelo olhar da verdade. “Reunimos informações que revelam parte da história de Mato Grosso do Sul que estava ocultada. Rompemos o silêncio e estas informações serão fundamentais para combater a impunidade, restaurar a dignidade, aperfeiçoar o aparato institucional e promover a reparação destes direitos violados”, ressalta.

A parceria entre a Comissão de Trabalho, Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul e o Comitê Memória, Verdade e Justiça tem o objetivo de coletar informações a partir de oitivas com pessoas que sofreram violações entre os anos 1946 e 1988 no Estado. Ao final dos trabalhos, um relátório será produzido e encaminhado para a Comissão Nacional da Verdade e órgãos do governo para executar medidas de reparação de direitos, entre outras, para aperfeiçoamento das instituições do Estado.

“Ao dar voz aos nossos depoentes, estaremos desvelando fatos que há décadas destruíram vidas, mudaram a rotina, desestruturaram famílias, segregaram pessoas humanas e com consequências que até hoje afligem dezenas, e por que não dizer centenas, de cidadãs e cidadãos”, concluiu Tetila.
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