Deputados destacam importância dos médicos da fronteira

Imagem: Paulo Corrêa, Amarildo Cruz e Lauro Davi ocuparam a tribuna na sessão de hoje.
Paulo Corrêa, Amarildo Cruz e Lauro Davi ocuparam a tribuna na sessão de hoje.
19/03/2014 - 15:52 Por: João Humberto    Foto: Giuliano Lopes

Os deputados estaduais Paulo Corrêa (PR), Amarildo Cruz (PT) e Lauro Davi (Pros) ocuparam a tribuna na sessão desta quarta-feira (19/3) para falar sobre os médicos que estudam na fronteira e que encontram entraves para atuar no Brasil, assim como a questões relacionadas à saúde em MS. Uma audiência pública debaterá a questão do médico de fronteira no próximo dia 2 de junho na Assembleia Legislativa, de acordo com informações do deputado republicano.

Corrêa iniciou os debates informando que recentemente participou de evento em Ponta Porã, município sul-mato-grossense que faz fronteira com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero e foi abordado por estudantes que cursam medicina em faculdades paraguaias. Eles desafiaram o parlamentar a discutir a situação dos médicos na fronteira.

Na tribuna, o deputado do PR disse que em Pedro Juan Caballero há cinco universidades de medicina, sendo que dos cinco mil alunos matriculados, cerca de dois mil são de Mato Grosso do Sul. Diante do programa federal Mais Médicos, que permitiu a “importação” de médicos de outros países para trabalhar nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades brasileiras, Paulo Corrêa fez questionamentos sobre por que não contratar profissionais formados nas faculdades do Paraguai e Bolívia para prestar serviços no Estado, por exemplo.

Ele admitiu que o programa federal precisou ser implantado emergencialmente diante dos pedidos de prefeitos de cidades com menos de 20 mil habitantes que, mesmo oferecendo salários consideráveis, se deparavam com a recusa dos médicos em trabalhar nesses locais. “Há casos de médicos que só iriam para o interior se ganhassem R$ 30 mil; isso quebraria as prefeituras. Fui verificar e descobri que médicos que se formam em Pedro Juan e que trabalham lá ganham R$ 5 mil. Porque não trazer esses médicos para?”, questionou.

Para Corrêa, o monopólio da exigência de salários exorbitantes para trabalhar no interior precisa acabar. “Os municípios do interior não estão conseguindo contratar médicos para trabalhar a saúde curativa e por conta disso, muitos hospitais têm fechado suas portas por falta de profissionais, pois não conseguem pagar os valores exigidos. Com um salário pago a um só médico brasileiro, dava para contratar vários formados em Pedro Juan. Esse monopólio tem que acabar e nada mais justo que a sociedade discutir o problema”, avaliou.

Outro ponto debatido por Corrêa na tribuna se refere à qualidade dos serviços oferecidos pelos médicos da fronteira. “Precisamos saber qual a grade curricular oferecida nas faculdades de lá e nas faculdades daqui, porque se não houver muita diferença qual o motivo para existir preconceito em relação aos serviços oferecidos pelos médicos formados no Paraguai ou na Bolívia?”, afirmou, lembrando que um decreto presidencial de 2008, assinado pelo então presidente Lula, permitiu que num limite de 50 km de Uruguaiana (RS), que faz fronteira com município do Uruguai, médicos de ambos os países pudessem prestar serviços em ambos os lados.

O parlamentar sugeriu que o mesmo poderia ocorrer com Ponta Porã, Coronel Sapucaia e Paranhos, municípios sul-mato-grossenses que fazem fronteira com as cidades paraguaias de Pedro Juan, Capitán Bado e Ype-Hú. “Essa e outras questões serão discutidas na audiência pública que será realizada na Assembleia Legislativa e numa outra que acontecerá em Pedro Juan”.

Funcionamento do SUS - O deputado Amarildo Cruz, presidente da CPI da Saúde, que investigou repasses do SUS (Sistema Único de Saúde) para 11 cidades de MS, relatou que a saúde, hoje, está sendo tratada como um negócio. “Como fica a vida?”, questionou.

Independentemente de o Brasil receber médicos de outros países, tanto os profissionais brasileiros quanto os estrangeiros precisam ter a noção de que sua missão é salvar vidas. “O programa Mais Médicos colocou em destaque o corporativismo exacerbado praticado por vários médicos e evidenciou que a saúde precisa ser garantida a todas as pessoas que dependem da saúde”, sentenciou.

Na opinião do parlamentar, os interesses particulares precisam estar em segundo plano e o SUS precisa funcionar. “A Constituição Federal fala num sistema único de saúde para acesso da população. Mais de cem milhões de habitantes contam com esse plano que, na teoria, deveria atender a todos, mas na prática não é o que se vê. Tenho certeza que se nesse universo contarmos com pessoas de bem, as chances para fazer com que o SUS funcione são grandes”, revelou o petista sobre a possível abertura de vagas para profissionais formados em faculdades da fronteira.

Falta de estrutura - A falta de estrutura é apontada pelo deputado Lauro Davi como um dos maiores entraves para que os médicos trabalhem no interior. “Qual a estrutura que as cidades do interior têm para que um médico com qualquer especialidade vá para lá? O que Mato Grosso do Sul tem investido em estrutura física dos hospitais localizados no interior”, perguntou.

Davi disse que, independentemente de salários mais baratos, é necessário que essa questão também seja debatida. “Levar médico para o interior é bom, mas não é certo colocá-lo lá e não oferecer estrutura adequada. Há casos em que faltam até remédios para os médicos darem aos pacientes. Precisamos então focar as discussões em infraestrutura de atendimento e saúde na fronteira”, sugeriu.
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