Grandão defende independência das cadeias produtivas das aldeias

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Segundo ele, para que isso ocorra é preciso vontade política e compromisso do Poder Público
10/02/2015 - 12:40 Por: Daniel Machado    Foto: Roberto Higa

O deputado estadual João Grandão, vice-líder do PT, usou a tribuna na sessão de hoje (10/2) para defender uma causa na qual tem se notabilizado como um dos mais fiéis e destacados porta-vozes no Mato Grosso do Sul: a luta pela independência dos povos indígenas.

A população indígena no Brasil, segundo Censo IBGE 2010 (último levantamento) é de 896,9 mi, com 305 etnias e 274 idiomas, e cresce cinco vezes mais que a população geral. Com 73 mil indígenas, o Estado de Mato Grosso do Sul é o segundo do País (em 2000, eram 63 mil), atrás somente do estado do Amazonas.

No último fim de semana, o deputado esteve em Dourados reunido com lideranças da aldeia Tey Kuê, do município de Caarapó, a 290 quilômetros de Campo Grande, e fez um breve balanço do encontro. “Eles me procuraram para dizer que não querem apenas cesta básica do poder executivo, mas que desejam produzir, se inserir e ter renda, com acesso a maquinários, assistência técnica, sementes, construir uma aldeia, enfim, ter a possibilidade de agregar valor e renda para as mais de 350 famílias indígenas que moram ali na aldeia Tey Kuê”, disse.

Segundo Grandão, para que essa independência ocorra é preciso vontade política e compromisso do Poder Público. “Conversamos sobre a possibilidade de estabelecer uma espécie de comissão, de coordenadoria de políticas indígenas para discutir a organização da produção nas aldeias, levando isso tudo ao conhecimento do poder executivo de Caarapó”, ressaltou.

“Aliás, está lançada a ideia para que todas as prefeituras de municípios com maior concentração e presença de aldeias indígenas criem uma coordenadoria para discutir políticas públicas específicas para os índios”, sugeriu. “Assim, a discussão não ficará restrita ao que o fazendeiro quer, ao que o índio deseja, mas em uma negociação boa para todas as partes e com a efetiva participação do Poder Público e da sociedade civil”, emendou.

Cadeias produtivas – O financiamento da produção, assistência técnica e doação de sementes de qualidade também foram tema do discurso do deputado, que defende a transição de um modelo de subsistência para um sistema profissional de produção nas tribos indígenas. “Essa lógica de que o índio não tem iniciativa, não quer trabalhar, é mentira. Eles precisam apenas da oportunidade para construir novas possibilidades e ganhar novos mercados, como a Festa da Mandioca, que acontece anualmente em Caarapó, a merenda escolar, compras governamentais”.

Grandão acredita na estruturação das cadeias produtivas que, segundo ele, andam desconexas, prejudicando principalmente o pequeno e médio produtor. “Temos que buscar uma reestruturação de cadeias produtivas, com financiamento, capacitação e assistência técnica, valorização da cultura indígena, sem falar do cuidado das estradas vicinais, que precisam ser preservadas pelo poder público. Enfim, há aí uma oportunidade de um grande processo de inclusão social com geração de renda e preservação da cultura indígena”, reforçou.

“A questão não é simples e nem rápida, mas tendo vontade política e disposição, organização e união em prol do desenvolvimento dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, transformaremos essa realidade. Não é preciso grandes investimentos, principalmente se houver parceria do governo federal, da Funai [Fundação Nacional do Índio], com Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], o governo do Estado, por meio da Agraer [Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural] e dos municípios”.

Compra – Grandão acredita também que tão importante quanto estruturar as cadeias produtivas é criar um sistema de institucionalização de compras da agricultura familiar. “Somente entre os alunos indígenas da etnia Tey Kuê são 1450 alunos. No mínimo, são 2900 refeições de merenda escolar (café da manhã e almoço) para essas crianças que podem vir da produção da própria aldeia, comida saudável e de boa qualidade e geração de renda para as famílias”, explicou.

Política territorial – Como ex-deputado federal e ex-delegado federal do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), o deputado João Grandão lembrou de seu trabalho em Brasília, quando juntamente com o Governo Federal trabalhou em projetos para o desenvolvimento e políticas e assentamentos por regiões.

“Conseguimos que Mato Grosso do Sul fosse quase que totalmente territorializado, território do Bolsão, Norte, Conesul, assim conseguimos até desenvolver projetos para cada área, viabilizamos a doação de 78 moto-niveladores, 78 caminhões e 78 moto-escavadeiras para atender a reforma agrária e a agricultura familiar, tudo sem um centavo do governo estadual”, finalizou.
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