Em CPI, produtores detalham conflitos e mostram vídeos com membros do Cimi

Imagem: Esta foi a 4ª reunião da CPI que investiga o Cimi
Esta foi a 4ª reunião da CPI que investiga o Cimi
20/10/2015 - 18:50 Por: Fernanda Kintschner    Foto: Wagner Guimarães

Os produtores rurais Ricardo Bacha e Jucimara Bacha, donos da Fazenda Buriti em Sidrolândia (MS) que deixaram as terras em 2013 após conflitos com indígenas, foram ouvidos nesta terça-feira (20/10) pelos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a suposta incitação por parte do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) às ações indígenas. Eles apresentaram dois vídeos que foram incorporados como documentos a serem analisados pela CPI.

O primeiro mostrou um homem que se apresenta como Flávio Vicente Machado, coordenador regional do Cimi, explicando que a organização tem como um dos objetivos contribuir com os indígenas para a “retomada de terras tradicionais”. Em seguida, o vídeo mostra um trecho do dia da reintegração de posse feita pela Polícia Federal na Fazenda Buriti em 2013, em que Flávio Vicente Machado aparece. O segundo vídeo mostrou um homem reconhecido como Cleber César Buzatto, secretário executivo do Cimi, em ele que explica que a atuação junto aos povos é para a retomada de terras que, na visão do Conselho, os índios teriam sido expulsos.  

Segundo a pecuarista Jucimara Bacha, os vídeos foram mostrados na tentativa de provar a participação de instituições nos conflitos pela terra e não somente por pessoas indígenas. “Eram umas 600 pessoas. Tinham mulheres, crianças e deficientes. Jogaram bombas na sede da fazenda. Mesmo desesperada, quando saí escoltada pela Polícia Federal pude ver vários ‘não-índios’ filmando. Não temos provas concretas, mas com os vídeos que estão na internet sobre aquele dia em 2013 mostram que o Cimi estava lá e por isso acredito que a ideia não era dos índios”, explicou Jucimara.  

Ela elencou como a relação com os indígenas de três aldeias - Buriti, Córrego do Meio e Água Azul - que circundavam a fazenda era amistosa antes do suposto envolvimento do Cimi. “Nos dávamos bem com os índios e desde 2000 eles avisavam sobre possíveis invasões e até nos perguntavam onde poderiam invadir, mas eu nunca acreditava e também não entendia aquilo. Ficava claro que não era ideia deles. Em 2003 entraram pela primeira vez e enquanto eu chorava o cacique segurava a minha mão. Aquilo não tinha sentido. E em 2013 que foi a invasão decisiva eu percebi que era algo de fora para dentro da aldeia, tanto que quase não reconheci nenhum índio da região”, afirmou Jucimara.

O relator da CPI, deputado Paulo Corrêa (PR), sugeriu que a Comissão ouça o depoimento do delegado federal que aparece no primeiro vídeo apresentado e o pedido foi acatado pelos demais membros. “Ficou claro que bombas fazem parte de estratégia de guerrilha. Vamos averiguar todos os fatos”, afirmou. Para Onevan de Matos (PSDB), o vídeo comprova a participação do Cimi nos conflitos. Já Pedro Kemp (PT) concorda que o vídeo prova que o Cimi esteve no dia da reintegração de posse, mas não é possível afirmar que a entidade incitou alguma forma de conflito e que todos precisam ser ouvidos.

A presidente da Comissão, Mara Caseiro (PTdoB), afirmou que não haverá de sua parte nenhum impedimento quanto aos depoentes e que todos terão amplo direito de defesa, inclusive os que aparecem nos vídeos. “Se ficar comprovado a incitação por parte do Cimi, às invasões de propriedades privadas, vamos pedir interferência da Igreja Católica do qual ele faz parte para que reveja a atuação, pois estes vídeos nos remetem a não ser mais apenas evangelizar. Estamos investigando”, ponderou.

Outros documentos - Além dos vídeos o pecuarista Ricardo Bacha também apresentou um livro de anotações coletado em 2009, em que afirma conterem informações de quantos índios possuíam armas, quantas balas, atas de reuniões, entre outras informações. “Nessa época eu não tinha muita certeza se havia um trabalho por trás, até que fui informado que a Noruega era financiadora dos índios Terena. Ouvi isso de índio, mas não tenho como provar. A morte daquele indígena [Oziel Terena] na minha propriedade [em 2013] me deixou mal. Depois o Cimi me envia uma carta de repúdio como se eu fosse culpado. A reintegração de posse foi feita pela Polícia Federal, não por mim”, disse Bacha.

Bacha também entregou uma cartilha que, segundo ele, foi editada pelo Cimi e que sugere que “o fim dos suicídios indígenas pode ser alcançado com a retomada de áreas para desafogar as superlotadas”. “Começamos a perceber que o Cimi foi criado com essa função. Estou convencido de que eles estão por trás destas invasões. Agora não acredito que ele seja um organismo do mau, mas que isso faz parte de um processo que tem origem fora do Brasil, com objetivo de formar nações dentro do país e isso seria um projeto perigoso”, sugestionou.  

Convocados – Os membros aprovaram a convocação das seguintes pessoas: Flávio Vicente Machado (Cimi); Cleber César Buzatto (Cimi); vereador Percedino (Dois Irmãos do Buriti); Malcir Paulete, Nereu Shneider e Olívio Mangolim (escritores); Egon Reck; Luiz Henrique Eloi Amando; Otoniel Guarani; Orlando Lopes; Daniel Lopes; Elizeu Lopes; Alberto Vinícius Jorge (Aldeia Buriti); Dionedson Terena; cacique Edson Candelário (Aldeia Cachoeirinha); cacique Ramão (Nioaque); professor Estevinho (indígena de Taunay); procurador do Ministério Público Federal Emerson Kalif Siqueira; Dirce Veron (indígena); Inocêncio Pereira e Cacilda Pereira.  

A próxima reunião está prevista para terça-feira (27/10), às 14h, no Plenário Júlio Maia da Assembleia Legislativa. Também é membro da Comissão o deputado Marquinhos Trad (PMDB), que hoje foi representado por sua suplente Antonieta Amorim (PMDB).

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