Indígenas e delegado são ouvidos na oitiva da CPI do Cimi

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Oitiva da CPI do Cimi nesta terça na Assembleia Legislativa
27/10/2015 - 21:14 Por: Juliana Turatti    Foto: Wagner Guimarães

Na oitiva desta terça-feira (27/10), os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) ouviram os depoimentos dos indígenas Dionedson Cândido, Inocêncio Pereira, Cacilda Pereira e Abélcio Fernandes e do delegado Alcídio de Souza Araújo, da Polícia Federal. A CPI está investigando a suposta incitação por parte do Conselho Missionário Indigenista às ações indígenas.

O primeiro depoente da tarde foi o índio terena Dionedson Cândido que é artesão e assessor parlamentar e mora na Aldeia Bananal no município de Aquidauana. Ele esteve presente no dia 15 de maio de 2013 na reintegração de posse da fazenda Buriti em Sidrolândia. Dionedson foi questionado pelo deputado Pedro Kemp (PT) se nas assembleias realizadas pelos indígenas existe a participação de entidades não indígenas. “Em nenhum momento seja a entidade governamental ou não governamental tem direito de participar de uma decisão que é nossa, quando algum movimento social participa nas grandes assembleias terenas é como convidado”, declarou o índio.

Declarou ainda que foi convidado a filmar a ação do dia 15 na fazenda Buriti e que o Cimi não patrocinou nada e que desconhecia as atividades do Cimi porque não faz parte do mesmo. Afirmou também que nenhum índio estava portando arma no dia da ação na fazenda em Sidrolândia.

Os índios Inocêncio Pereira, Cacilda Pereira e Abélcio Fernandes da Aldeia Kurussu Ambá do município de Coronel Sapucaia se manifestaram dizendo que se sentiam intimidados em dar o depoimento em público pela sua condição cultural e por ameaças já sofridas. A presidente da Comissão, deputada Mara Caseiro (PTdoB) consultou os membros pela realização de sessão secreta e todos foram favoráveis. O público que estava no plenário foi convidado a se retirar para que os índios pudessem ser ouvidos em sigilo.

O último depoente a ser ouvido foi o delegado Alcídio de Souza Araújo que participou da ação de reintegração de posse da fazenda Buriti, em Sidrolândia, e aparece em vídeo apresentado durante a última oitiva da CPI pelos proprietários da fazenda, Ricardo e Jucymara Bacha que foram ouvidos na semana passada pelos membros da comissão. Alcídio de Souza é delegado da Policia Federal e atualmente chefia a delegacia em Ponta Porã onde reside.

 “Vim para contribuir com a CPI, sem qualquer partidarismo, gostaria de deixar claro”, declarou o delegado ao iniciar seu depoimento para a CPI. Também afirmou que é experiente em reintegração de posses e declarou que na reintegração de posse em Sidrolândia uma pessoa da Funai saiu do conflito às pressas porque estava com medo das pessoas do Cimi que participavam da ação. E que foram aproximadamente entre 200 a 300 índios que participaram do conflito na fazenda Buriti, em Sidrolândia.

“Quando fiz reintegração em Miranda me lembro que demos oportunidade para que os indígenas retirassem seus pertences e naquela confusão chegou um senhor indígena já de idade e mencionou ‘que isso tudo é culpa do Cimi. Eles incitam violência. Os mais velhos preferem seguir a lei, mas os mais novos são incitados pelo Cimi”, contou o delegado.

O deputado Paulo Corrêa pediu para que a Comissão solicitasse o relatório final do delegado que foi apresentado na reintegração de posse da fazenda Buriti. E reforçou que baseado nas afirmativas do delegado podia chegar a conclusões. “Houve técnicas de guerrilha e para que isso acontecesse também houve financiamento”, destacou o parlamentar.

Ao encerrar, a deputada Mara Caseiro ressaltou a função da CPI. “Essa CPI não é contra indígena, não é contra a igreja católica, não é a favor do fazendeiro, ela é a busca da verdade e quer acima de tudo trazer uma condição digna de vida para a comunidade indígena”.

Também participaram da reunião os membros da Comissão, deputado Onevan de Matos (PSDB) e a deputada Antonieta Amorim (PMDB) que é suplente do deputado Marquinhos Trad (PMDB). Foi ainda aprovado e deliberado pela CPI o pagamento do transporte para que os indígenas pudessem acompanhar as oitivas na Assembleia Legislativa. A próxima reunião está prevista para terça-feira (3/11), às 14h, no Plenário Deputado Júlio Maia da Casa de Leis.

Depoimentos - Além dos índios e do delegado ouvidos nesta terça (27/10), os membros da Comissão também já ouviram os jornalistas Lorenzo Carrasco e Nelson Barretto, estudiosos da área, e os produtores rurais Ricardo e Jucymara Bacha.

Convocados - A Comissão aprovou a convocação dos seguintes nomes para serem ouvidos nas próximas oitivas: o desembargador aposentado de Roraima, Alcir Gursen de Miranda, o vice-governador de Roraima, Paulo César Quartiero, o presidente nacional do Cimi, Dom Roque Palocshi que é bispo da diocese de Roraima, Nanci Aparecida da Silva e as produtoras rurais da fazenda Esperança do município de Aquidauana, Mônica Alves Corrêa e Miriam Alves Corrêa.

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