Em CPI, depoente muda declaração e delegado nega revelar investigação

Imagem: CPI do Cimi realizou sua primeira acareação nesta terça
CPI do Cimi realizou sua primeira acareação nesta terça
01/12/2015 - 19:45 Por: Juliana Turatti    Foto: Wagner Guimarães

Na 9ª oitiva da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), nesta terça-feira (1/12) foi realizada a acareação entre o ex-assessor jurídico do Cimi, Maucir Pauletti e o delegado da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, André Matsushita.

Na semana passada a Comissão apresentou gravação de um diálogo que se deu na sala da coordenação do Curso de Direito da Universidade Católica Dom Bosco (UCBD) entre Maucir Pauletti e outras pessoas. Em parte do áudio o ex-assessor jurídico do Cimi fala em colegas da secreta, que quando questionado pela CPI quem seriam estes colegas ele citou o delegado André Matsushita.

Na acareação o delegado negou revelar qualquer informação de investigação para Maucir Pauletti . “Tenho a esclarecer que conheço o Maucir Pauletti da universidade. Não tomei conhecimento de qualquer investigação que o envolvesse e se eu tivesse conhecimento de algo assim não falaria para ele. Eu não misturo os dois trabalhos, no caso a docência e a polícia. Minha relação como o Maucir Pauletti sempre foi cordial e acadêmica. Nego veemente que tenha dado qualquer informação sobre investigação”, afirmou André.

Após o testemunho do delegado, Maucir foi ouvido pela Comissão e mudou o seu depoimento da semana passada (24/11). “Então com muita tranquilidade agora, depois de ter pensado, porque essa gravação tem muitos anos e além de eu não saber que a conversa havia sido gravada e também ter sido pego de surpresa quanto me foi apresentada. Eu tenho a dizer que éramos colegas de trabalho na universidade. Ele nunca fez nenhum repasse de informação pra mim. Eu fiquei em dúvida e retiro o nome do André do meu depoimento”, declarou Maucir.

Foi então retirado o nome do delegado André Matsushita do depoimento de Maucir Pauletti e a presidente da CPI, deputada Mara Caseiro (PTdoB) comunicou que o ex-assessor jurídico poderá ser chamado novamente, para prestar esclarecimentos pelas disparidades.

Depoimento - Em um segundo momento foi ouvido pela CPI o administrador rural, Ramão Aparecido Evangelista dos Santos que trabalha na Fazenda Brasília do Sul, localizada no município de Juti. A Fazenda sofreu conflito agrário em 2009 e está assim até hoje. Em seu depoimento Ramão contou ter um relacionamento bom com os índios e que gostaria que os integrantes do Cimi fossem na fazenda apenas para evangelizar.

Quando questionado se há mudanças de comportamento dos indígenas quando recebem visitas do Cimi Ramão disse que sim. “Sempre que têm notícias que vão receber visitas usam o cocar, se pintam, sim eles mudam o comportamento. Os índios me contam que o Cimi e a Funai incentivam a retomar terras e fazer badernas, mas quando aperta eles tiram o corpo fora”, assegurou, Ramão.

“Tudo que eles querem é que aconteça algo. O Cimi coloca os índios para nos confrontar”, advertiu o administrador rural. Também descreveu que sempre viu pessoas não indígenas na fazenda com os índios. E que os indígenas estão bem equipados e que possuem armas, mas declarou não ter conhecimento da procedência das armas. “Não tenho nada contra indígenas. Mas eu acredito que temos que unir forças para resolver essa questão”, avaliou Ramão.

Durante o depoimento a Comissão apresentou fotos ao depoente que reconheceu algumas pessoas que viu na fazenda, entre elas identificou dois homens como sendo integrantes do Cimi, Fábio e Matias. Outros foram reconhecidos, mas ele não sabia os nomes. Ramão entregou fotos e documentos para a CPI e ainda deixou em sigilo os nomes dos indígenas que declararam para ele as ações do Cimi.

Ao final dos trabalhos da tarde, a deputada Mara demonstrou satisfação com os resultados apresentados até o momento nas oitivas da CPI. “Os depoimentos muito nos auxiliam e o que escutamos hoje aqui só reforça que o Cimi que deveria pregar a paz está incitando e impregnando a guerra”, lamentou a parlamentar.

CPI - O objetivo da Comissão é investigar a suposta incitação por parte do Conselho Missionário Indigenista às ações indígenas. A próxima reunião está prevista para terça-feira (8/12), às 14h, no Plenário Deputado Júlio Maia da Casa de Leis, a reunião é aberta ao público.  A Comissão é composta ainda pelos deputados Marquinhos Trad (PMDB) que é o vice-presidente e o como relator Paulo Corrêa (PR). E ainda os membros Onevan de Matos (PSDB) e Pedro Kemp (PT).

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