Em CPI, indígena expõe violência contra aldeia e outro é denunciado

Imagem: Cacique Elpídio Pires disse que sua aldeia já sofreu ataques de pistoleiros
Cacique Elpídio Pires disse que sua aldeia já sofreu ataques de pistoleiros
31/03/2016 - 19:01 Por: Fernanda Kintschner    Foto: Wagner Guimarães

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a ação/omissão do Estado nos casos de violência praticados contra os povos indígenas entre 2000 e 2015 ouviu na tarde desta quinta-feira (31/3) o depoimento do cacique Elpídio Pires, da Aldeia Potrero Guassu, de Paranhos (MS), que revelou diversos acontecimentos de violência ao seu povo de etnia Guarani.

“Em 2000 houve um ataque de pistoleiros em nossa aldeia e uma menina levou um tiro na boca. Até hoje não vimos ninguém ser punido. Foi uma pessoa branca. Eu fui à polícia denunciar e não tivemos resultado”, lamentou. Com o auxílio do intérprete professor Cajetano, guarani de Dourados (MS), o cacique definiu que houve omissão do Estado quanto à Segurança Pública.

“Ano passado tivemos cinco ataques. Mulheres foram estupradas. Um cunhado meu levou um tiro, eu levei outro na perna. Eu não tenho rancor dos pistoleiros. A gente sabe que eles estavam a mando do patrão. Mas queremos nossa terra, que já foi constatada pelo Ministério da Justiça como nossa, mas falta ser homologada”, explicou o cacique. O líder indígena disse que em sua comunidade vivem 200 famílias em mil hectares de aldeia e em outros 3 mil hectares de áreas incorporadas em conflitos pela terra.

Questionado pelo presidente da CPI, deputado João Grandão (PT), se há outros setores em que o cacique considera que seu povo tenha sofrido alguma violência, Elpídio afirmou que há problemas também na saúde, com difícil acesso à atendimentos médicos e na agricultura, com falta de incentivo de maquinário e insumos. "Quando recebemos as sementes já passou a época de plantio. Falo de coração sobre nossa situação, pois nós somos esquecidos”, finalizou o cacique.

Depoente dispensado

 Nesta quinta-feira a CPI também iria ouvir o depoimento do indígena Paulino Silva, da Aldeia Moreira, de Miranda (MS), com auxílio da intérprete professora Maria de Lourdes, da Aldeia Cachoeirinha, também de Miranda. Porém, os dois foram dispensados da oitiva após Paulino dizer, via intérprete, que não dominava a língua portuguesa e que, por isso, preferia depor em sua língua materna, terena.

Tal fato foi questionado pelos deputados Paulo Corrêa (PR), Mara Caseiro (PSDB) e Professor Rinaldo (PSDB), após um vídeo ser apresentado com Paulino falando fluentemente português e, portanto, por unanimidade, os deputados membros da CPI votaram por dispensar o depoente e sua intérprete e ainda registrar um boletim de ocorrência contra o indígena. 

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