Audiência Pública na Assembleia Legislativa aborda a gravidade da Depressão
A Assembleia Legislativa realizou, nesta sexta-feira (26/5), a Audiência Pública “Depressão, a Doença do Século”, a partir das 14h, no Plenário Deputado Júlio Maia. O evento foi proposto pelos deputados Paulo Corrêa (PR), Dr. Paulo Siufi (PMDB), presidente da Comissão de Saúde na Casa de Leis, Pedro Kemp (PT) e George Takimoto (PDT).
O deputado Paulo Corrêa destacou a importância de buscar mudanças na legislação para atender a saúde mental. “A Assembleia Legislativa cumpre o papel de discutir os assuntos ligados à nossa sociedade. A depressão é uma doença silenciosa que acontece dentro de nossas famílias. Do começo do ano até março tivemos aqui em Campo Grande 220 tentativas de suicídio. A doença precisa ser tratada com políticas públicas elaboradas em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau)”, declarou Corrêa.
O deputado George Takimoto explicou a dimensão da doença na sociedade. “No cotidiano ninguém percebe como a mente do ser humano consegue alcançar lugares inimagináveis, vai longe, não tem parâmetros, nem limites. Sou médico há 50 anos e já cliniquei no Hospital Psiquiátrico Franco da Rocha, lá eu percebi que a psiquiatria não é uma patologia de loucura, como dizem, e o número de pessoas atendidas é infinitamente pequeno se comparado com a necessidade dos cidadãos”, destacou.
Dr. Paulo Siufi falou da relevância do assunto tratado na audiência. “Vamos tratar hoje de um assunto que, infelizmente tem tirado a vida de muitas pessoas. Esta Audiência Pública é da mais alta importância dentro do Poder Legislativo Estadual”, relatou o deputado.
O deputado estadual Pedro Kemp expressou sua preocupação com o aumento de casos de depressão. “Estamos assistindo a um crescimento dos números de pessoas depressivas, inclusive resultando em algumas tragédias. Precisamos entender o motivo desse aumento. Em relação ao mercado de trabalho, os dados são preocupantes, estaticamente falando é onde mais há casos de depressão, ou por pressão dos superiores, ou jornadas de trabalho extenuantes, ou ansiedade em demasia por resultados e metas. É necessário um trabalho de prevenção e tratamento a esses casos”, divulgou Kemp.
O assessor parlamentar do Senado Federal, José Roberto dos Santos Gomes, falou do suicídio da esposa, que ocorreu em dezembro do ano passado. “Eu tinha ciência do problema de depressão, ela estava se tratando e soube maquiar muito bem o problema, não mudou comigo, nem com nosso filho, saía normalmente de casa para se divertir. No dia 10 de dezembro se suicidou junto ao meu filho, queimando carvão dentro do quarto fechado e isolado com panos nas frestas das portas. Temos que ter mais atenção aos nossos entes queridos, mas minha vida segue mesmo com alguns tombos”, alertou o assessor.
A psicóloga Dra. Solange Giurizzatto Monteiro de Carvalho explicou os sintomas clássicos de depressão. “Os sintomas começam na postura do indivíduo, geralmente cabisbaixo. Há disfunção no apetite, ou comem muito ou quase nada, perdem muito peso ou ganham. Também há alterações no sono, a maioria tem insônia, não dormem em nenhum momento, ou acordam no meio da madrugada e voltam a dormir de manhã cedo, dormindo o dia inteiro. Geralmente o cabelo também cai. O paciente precisa procurar a ajuda de um profissional, pois pode ser depressão ou outras doenças que também provocam esses sintomas”, avaliou Solange.
O psiquiatra Flavio Junior falou sobre o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Naviraí. “A falta do psiquiatra no Estado é enorme, em Naviraí temos mais ou menos 25 cidades com uma demanda grande. O CAPS faz um trabalho fenomenal, desde que o Poder Público mantenha toda a estrutura funcionando. Muitas vezes o paciente é atendido e só tem vaga para retorno três meses depois”, relatou o médico.
O urologista Dr. Jamal Salem falou sobre a relação entre a depressão e doenças da Urologia. “Trabalhando na área de Urologia e Sexologia, percebi que muitos pacientes com impotência sexual ou disfunção erétil têm esses sintomas diretamente ligados a problemas psiquiátricos e depressivos, a própria ejaculação precoce é uma forma de depressão, tratada com antidepressivos. O paciente precisa ser bem avaliado por um clínico geral pra poder ser encaminhando para um especialista”, explicou Jamal.
A psicóloga Maria Cristina Leal de Freitas falou do Hospital Psiquiátrico de Paranaíba. “Fundado em 1973, tem o objetivo de tratamento especializado em psiquiatria para a população carente. Batalhamos muito e continuamos funcionando mesmo sem verba suficiente, atendemos essas pessoas, pois elas não têm pra onde ir. São 40 leitos com programa de tratamento em constante revisão, totalmente conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS). O período médio é de 30 dias de internação, com um método terapêutico voltado a cada paciente. Nosso foco é conscientização da doença e orientação da família”, relatou a psicóloga.
O psiquiatra Dr. Juberty Antônio de Souza explicou as consequências de algumas doenças mentais. “Pelas estatísticas, há 20% de suicídios no estado grave da depressão, de esquizofrenia, 12%. Diferente do que o Ministério de Saúde preconiza, há doença mental sim, que invalida e mata. De cada 100 pessoas invalidadas para os trabalhos, 11 são por depressão e das dez doenças que mais incapacitam para o trabalho, cinco são psiquiátricas. Cada doença mental atinge o cérebro mudando a comunicação entre os neurotransmissores. Hoje há maior possibilidade de diagnóstico da depressão, inclusive em crianças e adolescentes. Os deprimidos não se matam porque querem morrer, e sim porque querem deixar de sofrer”, constatou o médico.
O promotor de justiça Gerson Eduardo de Araújo, titular da 27ª Promotoria de Justiça da Infância e Juventude, declarou que quer participar ativamente da fiscalização das políticas públicas que serão construídas. “Estou aqui representando o Ministério Público Estadual (MPE-MS), pois queremos acompanhar o que será feito para melhorar a situação da saúde mental no Estado, e fiscalizar isso, pois o que me preocupa são os atos de violência que ocorrem dentro das escolas. Recomendo que tenham uma política de orientação aos professores da rede de ensino pública para darem uma atenção especial as crianças que apresentam sintomas de depressão”, considerou o promotor.
A representante da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Michele Scarpin, gerente de Saúde Mental de Mato Grosso do Sul, pontuou a situação da Rede de Atendimento à Saúde no Estado. “ Tivemos a pactuação nos município de criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em 2014, estamos em 2017 e não foi efetivado estes serviços. A Rede tem que funcionar desde a atenção básica até a especializada, em postos de saúde, hospitais e CAPS”, afirmou Michele
A psicóloga Marilene Martins Cavalcanti, representante da Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau), destacou a necessidade de aumentar o número de profissionais da área de psicologia e psiquiatria. “Sou gerente de uma unidade de saúde. Na rede não temos muitos psicólogos e psiquiatras, precisamos de mais para assistência à população. Estamos fazendo um trabalho de divulgação do trabalho em saúde mental. Os profissionais de saúde estão mudando o olhar sobre o paciente, identificando muitas vezes naquele que não sai do ambulatório, que a doença é depressão, e não um mal físico”, explicou a psicóloga.
Entre os encaminhamentos da audiência pública está um Projeto de Lei de autoria dos deputados proponentes que dispõe sobre a criação do Agosto Verde, para que, neste mês haja palestras, cartilhas, explanações e todo tipo de atividade voltada a conscientização sobre a depressão e uma emenda dos deputados estaduais para que seja usada a eletroconvulsoterapia para a população de baixa renda do Estado.
Crédito obrigatório para as fotografias, no formato Nome do fotógrafo/ALEMS.