<P><FONT size=1>O deputado Pedro Kemp, líder do Partido dos Trabalhadores na Assembléia Legislativa resumiu o que sente em relação ao caso New York Times pelas palavras do texto do assessor especial do governo e militante histórico do PT, Frei Betto. Em artigo publicado no Globo desta semana Frei Betto observa o desejo da nação americana pela desmoralização do Governo Lula. Governo que segundo Frei Betto mostra firmeza na defesa da soberania das nações quando não apóia a invasão do Iraque; apóia a Venezuela de Chávez ou exige uma agenda diferente para a Alca valorizando as necessidades das economias emergentes. </FONT></P><P><FONT size=1>Kemp afirmou enfaticamente não concordar com a expulsão do jornalista americano através da cassação do visto. Nesse sentido, ele lembrou que o presidente reconsiderou a questão. </FONT></P><P><FONT size=1>"No entanto, eu aconselho ao New York Times, jornal que nunca falou bem do Brasil, que denuncie a política intervencionista dos Estados Unidos, a fraude eleitoral do seu presidente, o falso moralismo norte-americano e a sua política desrepeitosa que legaram a população daquele país um 11 de setembro. Eles que parem de pensar em intervir na sucessão de Cuba que é assunto dos cubanos e se ocupem de seu presidente déspota, lunático e agressor da soberania das nações", afirmou o deputado.</FONT></P><P><FONT size=1>Um ponto importante do discurso do líder do PT foi a crítica "a uma elite" que no Brasil tenta classificar "um torneiro mecânico, um metalúrgico, um trabalhador" de alcoólatra quando ela mesma jamais criticou tão desrespeitosamente a qualquer outro presidente quanto a esse assunto. "Tenho muito orgulho do nosso presidente e penso que além de enfrentar os desafios de gerir um país com grandes desafios, Lula tem que vencer também o preconceito e a hipocrisia", disse Pedro Kemp.</FONT></P><P><FONT size=1>Leia na íntegra o texto do Frei Betto, publicado no Jornal OGlobo:</FONT></P><FONT size=1>O PORRE DO PRESIDENTE</FONT><P></P><FONT size=1>Por FREI BETO</FONT><P></P><FONT size=1>Anda esquecido por aí o único filme dirigido pelo Henfil, “Deu no New York Times”. É uma sátira. Num país miserável governado por um ditador, o jornal é ansiosamente aguardado a cada manhã para pautar a agenda do governo. Profeta, Henfil já nos alertava que o NYT não pode ser levado a sério. Trata-se de um pastelão que sempre se aliou à política colonialista e intervencionista da Casa Branca. </FONT><P></P><FONT size=1>Por que o NYT não segue as pegadas do “Washington Post” e denuncia as torturas que as tropas americanas infligem aos iraquianos? Por que não clama contra o campo de concentração, avesso à tradição jurídica, que os EUA instalaram na base naval de Guantánamo, violando a soberania de Cuba? Ninguém é capaz de imaginar uma base naval de Cuba nas costas da Califórnia, protegida pelo silêncio conivente da grande mídia...</FONT><P></P><FONT size=1>Algo no governo Lula incomoda o NYT. Claro, este governo obrigou os EUA a rever a agenda da Alca; a OMC, em Cancun, a tratar com mais respeito os países emergentes; e agora, pela primeira vez, os EUA se vêem punidos pela OMC no modo como conduzem sua política algodoeira.</FONT><P></P><FONT size=1>Como se destrói um símbolo? Qualquer manual de propaganda fascista revela a receita. Não convém criticar os princípios que ele encarna. Deve-se começar por ridicularizá-lo, como a foto de João Pedro Stédile retocada em capas de revista e de jornais para expressar um perfil demoníaco. Não se debate a importância da reforma agrária. Tenta-se fugir da questão política e centrar o alvo na mais vulnerável: a moral. Assim foi com Luther King, acusado de ter várias amantes; com Mandela, tido como desequilibrado; com Gandhi, “um frouxo”, na opinião de seus adversários, que o assassinaram.</FONT><P></P><FONT size=1>Lula nunca teve qualquer dependência de álcool. Jamais freqüentou bares, mesmo no tempo em que, metalúrgico, isso era comum no ABC. Se toma um trago é por razões sociais, como também o faço. Mas jamais em excesso ou para atingir aquele nível de inconsciência que abre espaço, em nosso comportamento, à irresponsabilidade.</FONT><P></P><FONT size=1>Mas Lula é viciado. Em política. Adora tomar porres homéricos de povão, com quem gosta de se misturar, abraçar e afagar. Ali, entre os pobres, sua adrenalina vai a mil. Por isso, fica de ressaca quando a conjuntura o obriga a aprovar um novo salário-mínimo aquém de seu sonho e das necessidades dos trabalhadores e dos aposentados.</FONT><P></P><FONT size=1>O NYT pretendeu minar a honra e autoridade de nosso presidente, porque este obrigou a Casa Branca a conter sua sanha na Venezuela e em Cuba. Nosso governo restaurou o Mercosul, aproximou-o do Grupo Andino, e não apoiou a invasão do Iraque. O ministro Celso Amorim não fica descalço quando ingressa nos EUA, como o fazia o ministro das Relações Exteriores de FHC.</FONT><P></P><FONT size=1>Indagado nos EUA se gostava de Bush, Lula respondeu que gosta mesmo é de Marisa, com quem está casado há trinta anos. O NYT não pode suportar a autoridade moral e política de um retirante nordestino, que saiu da fábrica para presidir o Brasil. Por isso, tenta forçá-lo a beber o veneno destilado em suas páginas. Esquece que somos vacinados contra esse tipo de armação, como aquela que pretendeu atingir o ministro José Dirceu no caso Waldomiro. Ninguém acusa João Paulo II de corrupto porque seu assessor direto, monsenhor Paul Marcinkus, caiu nas malhas da Justiça italiana, acusado de fraude e evasão de divisas.</FONT><P></P><FONT size=1>Deu no NYT que Lula bebe em excesso. A fonte, Leonel Brizola. Talvez Chico Buarque possa explicar quando canta o pote de mágoa. A embriaguez da derrota agride a lucidez da vitória. Mas quem tinha mesmo razão era o Henfil.</FONT><P></P><FONT size=1>Fonte: O Globo, pág 7 - Opinião, de 13/05/2004</FONT>