Leia na íntegra pronunciamento de Kemp contra a intolerância e preconceito a grupo de rap indígena Brô Mc´s

17/04/2012 - 16:34 Por: Jacqueline Lopes   

“Senhor presidente, senhores deputados, eu não poderia deixar de ocupar a tribuna nesta sessão pra comentar um fato lamentável que aconteceu e que foi noticiado pelo site Campo Grande News pela matéria da jornalista Ângela Kempfer – que não é minha parente, foi minha aluna há anos, mas uma brilhante aluna – a jornalista retratou um fato lamentável que aconteceu.

Um grupo de jovens indígenas Kaiowá Guarani, esteve no programa da Xuxa e fez uma apresentação, o grupo se chama Brô Mc´s, uma apresentação de rap e a música inclusive em Guarani e em português fazendo ali das duas línguas uma letra que foi traduzida no vídeo interessante promovendo a paz, chamando à valorização dos índios no Brasil, dizendo que os índios querem a convivência pacífica no Brasil, querem seu espaço.

E ai, como nós estamos na semana do Dia do Índio, dia 19 de abril, a apresentadora Xuxa levou esse grupo como uma forma de divulgar, mostrando que nas aldeias os jovens têm seus espaço, tentando divulgar um pouco da sua realidade, da sua cultura e ai essa pessoa L.D., que é uma estudante de Dourados, que mora na cidade de Dourados 'deputado Tetila', que é uma cidade que tem uma aldeia e conta mais ou menos com 15 mil pessoas, e os índios estão circulando pela cidade, tentando sobreviver, vendendo seus produtos na feira, estando ali no banco, no comércio e, essa pessoa ainda não aprendeu a conviver com o diferente, não aprendeu a respeitar a pessoa que tem características especiais, diferentes, próprias de uma cultura que tem muito a nos ensinar, uma cultura secular, que tem muito a nos ensinar, nós que vivemos nessa sociedade individualista, capitalista, competitiva e que está sufocando e matando essas culturas tradicionais que historicamente viveram no cooperativismo, na solidariedade, na ajuda mútua, na comunidade.

E esta estudante, que após assistir o Programa da Xuxa – que não é um programa que me agrada muito – e foi lá em seu Facebook e postou um comentário chamando os índios de “índios fedorentos”.

E depois, as pessoas que leram, postaram vários comentários embaixo do dela e uma falou assim: ‘que lixo véio’. E a outra disse: ‘…pintou uma vergonha’. Como se esses índios, esse grupo jovem vai se apresentar lá no programa da Rede Globo e esse jovem escreve ‘que vergonha pro nosso Estado’ e outro escreve: “esse MS só queima”.

Quer dizer, essa juventude acha o máximo quando vai um cantor lá de MS vai cantar um sertanejo universitário, que eu particularmente não gosto, mas respeito porque tem muita gente que gosta – faz um show aqui na exposição, lota! Pessoal gosta da ‘Éguinha Pocotó’. Olha só que cultura essas músicas, alto nível “Ai se eu te pego”.

Eu acredito que um autor de uma letra dessa deve fazer uma pesquisa porque é uma letra que tem um conteúdo “extraordinário” porque a pessoa faz sucesso, ganha dinheiro e fica milionário do dia para a noite.

Ai o outro faz um show e ele voa no palco, amarrado no cabo de aço, isso é uma coisa “extraordinária”. Agora os índios, eles têm que ficar na lama, na beira da estrada, comendo poeira, passando fome porque é uma “raça fedorenta” na visão dessa senhora aqui, que eu não conheço.

Lamento que ela tenha essa cabeça que ela tem, porque isso é discriminação, porque isso é olhar para o pobre e achar que é um ser humano de segunda categoria e nós não podemos admitir isso saber por que? Porque uma pessoa que pensa assim amanhã ou depois, ela discrimina, 'deputado'! Uma pessoa que olha para outra pessoa humana e a acha inferior, ela se sente no direito de pisar sobre ela, de agredi-la, de achar que ela não tem direito nenhum.

‘Por que você saiu lá do mato índio fedorento?’.

É assim que muita gente pensa! É ASSIM QUE MUITA GENTE PENSA!!! E é assim que muita gente age olhando pro índio, pro pobre e pro negro como seres de segunda categoria.

Esse Brasil foi colonizado pelos europeus e quando os europeus chegaram aqui se sentindo uma raça superior eles já encontraram esse povo morando aqui, tinha que no mínimo ter respeito aos primeiros habitantes desta terra. Isso ai levou ao nazismo quando os arianos acharam que eram uma raça superior e que os judeus tinham que ser exterminado. Temos que acabar com este pensamento ‘pelo amor de Deus!’.


Essa menina agora se retratou hoje, fez uma outra mensagem, pediu desculpas porque o Ministério Público falou que ia requisitar as informações aqui para abrir um inquérito contra ela. Está certo! Não dá para admitir nos dias de hoje deputado Eduardo Rocha, discriminação, preconceito, não dá. Nós somos um País onde moram árabe, judeu, italiano, alemão, espanhol, paraguaio, boliviano. Nós temos que nos abraças como irmãos, um respeitando o outro com suas diferenças. Quero deixar firmado aqui, é um caso de discriminação, preconceito.

A sociedade não pode aceitar discriminação contra ninguém, ninguém, por qualquer motivo. É constitucional, é constitucional! Essa menina, estudante não sei do que que ela estuda, ela tem que ler a Constituição do Brasil se ela quer ser uma profissional de alguma coisa. De repente quer ser uma advogada, uma médica, uma dentista, sei lá o que. Leia a Constituição Federal artigo 5º: ‘Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza tendo direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança, direito a propriedade”, direito de ir ao programa da Xuxa, de cantar o que quiser desde que não ofenda ninguém como essa menina fez ofendendo a dignidade da pessoa.


Eu queria senhor presidente dizer que o Ministério Público Federal, senhor presidente, requisitou daquele responsável por esta rede social estas mensagens incitando a violência, a discriminação, o preconceito não podem ser veiculadas assim e as pessoas acharam que isto é normal como eu estava dizendo aqui: Hoje alguém fala uma coisa depreciando a outra pessoa, amanhã, alguém se acha no direito de dar um tapa no rosto daquele que acha que é menor, que acha que é inferior e depois de amanhã alguém se acha no direito de matar porque é um ‘verme, é um ser que não devia existir’.

Então essas coisas têm que combater na raiz, nós somos um Estado que tem Dona L., que tem a segunda maior população indígena do Brasil, oito etnias diferentes, nós temos que aprender a conviver com essas diferenças. E aliás se ela conhecesse mais de perto a cultura desses povos indígenas ela não falaria isso porque da parte deles, eles respeitam os brancos, os não índios e todas as outras etnias que vivem aqui no Estado.

Então, eu acho que o Ministério Público faz correto tem que requisitar, tem que chamar a pessoa, tem que fazer a pessoa esclarecer, se redimir e não permitir mais que esse incitamento ao preconceito, a discriminação continue acontecendo nas redes sociais porque hoje as redes sociais têm uma força muito grande, de mobilizar, de articular.


Então, agora na véspera do Dia do Índio vamos pregar a igualdade, a fraternidade, a solidariedade sem permitir de nenhuma das partes violência, agressão e que a lei seja cumprida, o Brasil tem uma Constituição então liberdade, fraternidade, solidariedade, respeito aos direitos fundamentais da pessoa, muito obrigado”.

Segue abaixo traduzido da língua Guarani para o português a música que os jovens do Brô MC´s cantaram no Programa TV Xuxa, da Rede Globo.


Eju Orendive Grupo (Nós te chamamos para revolucionar): Brô Mc’s


Aqui, o meu rap não acabou
Aqui, o meu rap apenas começou
Escute, faz favor
Está na mão do Senhor
Não estou para matar
Sempre peço a Deus que ilumine o meu caminho e o seu caminho
Não sei o que se passa na sua cabeça
O grau da sua maldade
Não sei o que você pensa
Povo contra povo, não pode ser levante a sua cabeça
Se você chorar, não é uma vergonha
Jesus também chorou quando ele apanhou chego e rimo o rap guarani e kaiowa Você não consegue me olhar E se me olha, não consegue me ver
Aqui é o rap guarani que está chegando para revolucionar
O tempo nos espera, e estamos chegando
Por isso, venha conosco
Nós te chamamos pra revolucionar
Por isso venha com a gente, nessa levada
Nós te chamamos pra revolucionar
Aldeia unida mostra a cara
Vamos todos nós caminhar
Vamos todos nós festejar
Vamos mostrar para os brancos
Que não há diferença e podemos ser iguais
Aquele boy passou por mim
Me olhando diferente agora eu mostro pra você que eu sou capaz, estou aqui
E eu estou aqui mostrando pra você o que a gente representa agora estamos aqui porque aqui tem índios sonhadores
Agora te pergunto, rapaz
Por que nós matamos e morremos?
Em cima desse fato a gente canta Índios e índios se matando e os brancos dando risada
Por isso estou aqui para defender o meu povo Represento cada um e por isso, meu povo
Venha com a gente
Nós te chamamos pra revolucionar
Por isso venha com a gente, nessa levada
Nós te chamamos pra revolucionar
Aldeia unida mostra a cara
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