Parlamentares discursam pelo fim da discriminação racial e pedem políticas de Estado

Imagem: João Grandão e Amarildo Cruz disseram que somente quem passa por discriminação sabe "da dor que fica na alma"
João Grandão e Amarildo Cruz disseram que somente quem passa por discriminação sabe "da dor que fica na alma"
21/03/2018 - 12:31 Por: Fernanda Kintschner   Foto: Victor Chileno

Em 21 de março é comemorado o Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial, data criada pela Organização das Nações Unidas e relembrada nesta quarta-feira (21/3) em discurso na tribuna pelo deputado estadual Amarildo Cruz (PT). O parlamentar enfatizou que o fim das atitudes discriminatórias passa pela implementação de políticas públicas.

“É preciso discutir a discriminação, pois ela está presente em todas as esferas. Por mais de 300 anos a escravidão foi uma política de Estado, encorajada e enraizada, que infelizmente explica muita coisa desse Brasil. Então, governante que se preze, precisa implementar políticas públicas que superem as consequências nefastas do que ocorreu no passado. Por exemplo, hoje há negro que tem dificuldade de se assumir negro”, explicou o deputado Amarildo Cruz.

O parlamentar citou pesquisa em que 90% dos entrevistados disseram não ser racistas, mas também 90% concordou que há racismo no país. “Então está errado, onde está quem pratica? Hoje o negro tem dificuldade de registrar crimes de racismo. Tem gente que aponta chamando o outro de negão. As pessoas têm nomes. Cabe a nós sermos agentes de mudanças e o respeito sempre tem que vir em primeiro lugar, pois só o ofendido sabe o tamanho do estrago na alma”, lamentou o deputado.

Amarildo Cruz ainda citou que a intervenção militar no Rio Janeiro é uma falta de compromisso com a história do país, já que incita a violência em vez de ser uma política pública para diminuir a desigualdade social. “Tem que carregar essa bandeira de dar dignidade ao povo, de defender pobre e preto, como a vereadora Marielle Franco [PSOL] fazia. Ela sabia que o buraco era mais embaixo. Por isso lutou muito para estudar e chegar aonde chegou. Lamento os discursos de ódio das redes sociais, que jogam na lata do lixo toda uma luta e é por isso que devemos reforçar a questão da discriminação racial, pois ela era negra, vinda da favela e sabia que precisava lutar”, destacou.

Dr. Paulo Siufi (PMDB) concordou e disse que, muitas vezes, a responsabilidade tem recaído aos políticos. “Muitos se escondem atrás do computador para criticar os políticos, mas como fica a família da Marielle? Ela tinha uma conduta ilibada, nunca deixou de ir em uma sessão e agora as redes sociais criticam sem saber da sua história. Precisamos dar um grito de basta nisso e deixar de hipocrisia”, afirmou.

Também em discurso na tribuna, o deputado João Grandão (PT) acrescentou os estigmas sofridos pelos negros. “Não há serviço de branco. Preto correndo é ladrão. Criança negra que não tem par na festa junina ou vê a figura na apostila do negro somente em trabalho braçal. Vemos toda hora vídeos comparando atendimentos a brancos e negros. Parece que a discriminar é coisa natural, mas só percebe a dor do racismo quem passa por ela. Não adianta negar que as pessoas são identificadas pela cor da pele e jeito do cabelo. A cada 100 assassinados, 71 são negros. A maioria da população carcerária é negra. Por isso precisa de política afirmativa, a exemplo das cotas, que não devem ser eternas, mas são necessárias”, considerou.  

Enelvo Felini (PSDB) também usou a fala. “Quero ressaltar que hoje olho meus funcionários e tenho orgulho deles, pois os contratei pela capacidade e nunca pela cor, mas hoje percebo que a maioria são negros e queria registrar isso. Seria importante valorizá-los em um país que tem mais negros que brancos”, finalizou.

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