No Dia da Consciência Negra, deputados pedem reflexão quanto às desigualdades
Em 130 anos da abolição da escravatura, muito ainda precisa ser feito para diminuir as desigualdades sociais pelas quais os negros passam no Brasil, segundo os deputados estaduais Amarildo Cruz (PT) e João Grandão (PT), que ocuparam a tribuna da Assembleia Legislativa durante sessão desta terça-feira (20), marcada pelo Dia da Consciência Negra. A data foi instituída para lembrar a morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo de resistência contra à escravidão.
Amarildo Cruz foi o primeiro a discursar, pedindo a todos que aproveitem o dia para fazer uma reflexão sobre justiça social. “Esse é um dia de debate intensificado e profundo sobre a história de nosso país. Discutir sobre isso é papel de pessoas de bem pela democracia de oportunidades, que podem ajudar a cicatrizar as chagas deixadas pela escravidão. Foram mais de 300 anos de opressão e nosso país é racista sim. Não é questão de vitimizar, pois ninguém nasce racista, como disse [Nelson] Mandela, isso é ensinado, introjetado”, explicou.
Para o deputado, a política de cotas raciais foi a forma de dar instrumentos à dignidade, mesmo que transitoriamente. “Todas as leis e políticas no Brasil de antigamente beneficiaram os exploradores e isso refletiu na sociedade que somos hoje. Os negros sofrem esse reflexo também, pois são maioria nas periferias. Então que as cotas oportunizem o país a se retratar da desigualdade, enquanto for necessário, porque sabemos que não precisa ser para sempre”, destacou.
O parlamentar explicou o avanço que as cotas proporcionaram o acesso dos negros ao serviço público em Mato Grosso do Sul. Atualmente, 20% das vagas em concursos públicos no Estado são reservadas para negros, por força da Lei 4.900/2016. Amarildo Cruz (PT) foi autor da lei anterior, que resguardava 10% de vagas aos negros e foi ampliada pela nova legislação, que ainda determina que outros 3% das vagas sejam destinadas aos indígenas. Antes da Lei, Amarildo Cruz conta que nem 2% dos servidores eram negros e pardos. "Em 2018 esse percentual somam 11%", comemorou.
Mato Grosso do Sul ainda conta com a Lei 5.206/2018, que instituiu o Dia do Orgulho Crespo. “Essa foi uma lei que criei para ser mais um dia de conscientização pelo fim do racismo, em todo 7 de novembro, data em que uma jovem de Nova Andradina, Karina Saifer de Oliveira, se suicidou aos 15 anos de idade após sofrer bullying na escola por causa do seu cabelo”, alertou o deputado Amarildo Cruz.
Racismo dói
O deputado João Grandão também ressaltou a violência emocional que o racismo e a discriminação impõem. “É algo inadmissível, mas só quem passa, sabe o que significa a humilhação e a dor de sofrer pela cor da pele. Eu já passei e ficam traumas psicológicos. O racismo existe e ele dói”, lamentou o deputado.
João Grandão relembrou quando foi à África e viu os resquícios da política do Apartheid – segregação racial adotada entre 1948 e 1994 na África do Sul – em que as praias tinham portões e cachorros para proibir a ida de negros ao mar. “Quando foi liberado, muitos morreram por nunca ter tido a oportunidade de entrar na água e não souberam nadar. Essa situação de constrangimento e tantas outras, nos pedem um momento de reflexão. Quando deputado federal participei da discussão do Estatuto da Promoção da Igualdade Racial e vi quando rechaçaram a ideia de incluir estudos sobre as matrizes africanas. A escravidão deixou uma dívida cultural, econômica e social com os negros”, finalizou o deputado.
Sessão Solene
Nesta terça-feira uma sessão solene em comemoração ao Dia da Consciência Negra será realizada na Assembleia Legislativa, às 19h, no Plenário Júlio Maia. A participação é gratuita e aberta ao público e à imprensa. O Parlamento fica noi Bloco 9, do Parque dos Poderes.
Crédito obrigatório para as fotografias, no formato Nome do fotógrafo/ALEMS.