Novembro Azul: Campanha reforça o diagnóstico precoce e a superação dos tabus
Em dez anos, 139 mil homens morreram no Brasil em decorrência do câncer de próstata, segunda maior causa de morte oncológica no sexo masculino. Diariamente, a doença mata 42 pessoas no país. Essas elevadas estatísticas são alimentadas por uma cultura de mitos e preconceitos, que dificultam a prevenção do câncer de próstata e sua descoberta prévia. A atenção ao diagnóstico precoce, procedimento que aumenta para 95% as chances de cura, está entre os objetivos da campanha que se inicia na próxima semana: o Novembro Azul.
Surgido na Austrália em 2003 e realizado mundialmente, o movimento do Novembro Azul foi incluído no calendário oficial do Estado em dezembro de 2014, quando os parlamentares da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) aprovaram projeto de autoria do deputado Zé Teixeira (DEM) e coautoria do ex-deputado Marquinhos Trad. A Lei 4.636/2014 objetiva a realização de ações integradas para a promoção da conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer.
“Na minha visão, a informação e o diagnóstico precoce são as melhores formas de combate ao câncer de próstata”, afirma o deputado Zé Teixeira, que é o 1° secretário da Casa de Leis. Com relação à Lei 4.636/2014, o parlamentar a considera como “contribuição para promover a conscientização e garantir mais saúde a todos os homens de Mato Grosso do Sul”.
O deputado Paulo Corrêa (PSDB), presidente da ALEMS, reforça a relevância da lei que instituiu a campanha no Estado. “O Novembro Azul é mais uma oportunidade, encampada por esta Casa de Leis, que visa chamar a atenção, agora do público masculino, em cuidar da sua saúde, especialmente no que diz respeito à relevância no combate ao câncer de próstata e conscientização da importância de exames regulares e diagnóstico precoce”, afirma. “A conscientização pode salvar vidas”, destaca o parlamentar.
Paulo Corrêa nota, ainda, a existência de tabus e preconceitos e enfatiza a necessidade de superá-los para que o câncer de próstata possa ser descoberto precocemente, elevando a possibilidade de cura. “Infelizmente ainda parece ser um tabu a necessidade de os homens procurarem ajuda médica, o que é fundamental diante dessa doença, que pode se desenvolver lentamente, aumentando ainda mais a necessidade de diagnóstico precoce", comenta o deputado. E salienta: "A campanha é uma ferramenta importante para ajudar a criar uma postura diferente, que pode salvar vidas”.
Veja o vídeo produzido pela TV ALEMS a respeito do Novembro Azul clicando aqui.
Diagnósticos em estágios avançados e número alto de mortes
Conforme a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), de cada quatro pacientes com câncer de próstata, um morre devido à doença. Esse quadro seria menos crítico se a atenção à prevenção e ao diagnóstico precoce fosse maior. Ainda de acordo com a SBU, aproximadamente 20% dos diagnósticos são realizados em estágios avançados.
A situação apresentada pela SBU é corroborada pelas estatísticas do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Em 2018 (último dado), morreram 15.576 homens no Brasil por causa do câncer de próstata, segundo o INCA. Isso corresponde a 42 mortes por dia. Os registros cresceram ininterruptamente desde o início dos levantamentos, em 1979, e tiveram alta de 28,5% entre 2008 e 2018. No intervalo de dez anos, morreram 139.845 pessoas devido à doença. É mais que toda população do município de Três Lagoas.
O INCA estima, em todo o Brasil, 65.840 novos casos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020-2022. São 180 diagnósticos da doença por dia. Em Mato Grosso do Sul, a previsão é de 1.240 casos novos anuais. O valor corresponde ao risco de 88,37 casos para cada 100 mil homens. Essa taxa supera a nacional (62,95) e é a quarta maior do país, abaixo apenas às de Tocantins (94,71), Sergipe (92,36) e Rio Grande do Norte (88,46).
Com esses números, o câncer de próstata é o segundo tipo de câncer que mais mata homens no Brasil. O primeiro é o de brônquios e pulmões, com 16.305 mortes no país em 2018. O câncer de próstata também é o segundo mais comum no sexo masculino, com ocorrência inferior apenas ao de pele, cuja estimativa é de 83.770 casos novos.
Estatísticas alimentadas por preconceitos
A redução dessas estatísticas tem como obstáculos tabus, mitos, preconceitos quanto à doença, sua prevenção e seu tratamento. “Existem muitos preconceitos e mitos em relação aos exames preventivos de próstata”, afirma o médico urologista João Alexandre Queiroz Juveniz, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia em Mato Grosso do Sul (SBU/MS).
De acordo com o médico, os preconceitos estão ligados a dois fatores: a resistência ao toque retal e a ideia de que o desempenho sexual está associado à próstata. “O toque retal nunca vai sair do arsenal dos exames físicos dos médicos, porque é um exame simples, que pode ser feito numa consulta médica e traz muitas informações importantes”, afirma Juveniz. “É preciso desmistificar esse assunto”, enfatiza.
O outro problema, conforme o médico, é que a maioria dos homens acredita que sexo e próstata estão associados. “A parte sexual é outra função, que não tem relação com a próstata”, explica. “Lógico, a depender do tratamento do problema da próstata, isso pode afetar a parte sexual. Só que, normalmente, isso acontece, quando o paciente tem doenças mais avançadas”, acrescenta. Mas, de modo geral, o tratamento “não tem nenhum efeito colateral com a parte da função sexual do homem”. A superação desses preconceitos pode salvar muitas vidas.
Outro obstáculo a ser suplantando é a despreocupação com as práticas saudáveis. “É importante que os homens se cuidem e tenham hábitos de vida saudável”, orienta Juveniz. “Devem praticar atividade física com frequência, evitar o excesso de peso, evitar o tabagismo, moderar o etilismo e ter uma alimentação saudável”, exemplifica.
Fatores de risco, prevenção e tratamento
A ausência de práticas saudáveis aumenta o risco de câncer de próstata quando associada a fatores predisponentes relativos à raça e histórico familiar. Juveniz explica que pessoas negras e com antecedentes familiares positivos estão mais propensas a desenvolverem esse tipo de câncer. “Neste caso, a prevenção deve começar a partir de 41, 45 anos”, alerta. “Já os pacientes que não têm nenhum fator predisponente, não têm antecedentes familiares, não são da raça negra, devem começar, normalmente, a realizar exames preventivos a partir dos 45 a 50 anos de idade”, completa.
Esses exames de diagnóstico precoce são de dois tipos: o PSA e o toque retal. “O PSA é uma sigla para antígeno prostático específico, uma microproteína dosada no sangue e secretada pela próstata. Se tiver aumentada pode ter algum problema na próstata. Outro exame é o do toque retal, realizado no consultório médico, em poucos segundos e que permite verificar a consistência, o tamanho, os limites da próstata e, assim, se há alteração sugestiva de algum problema”, informa.
Caso seja descoberta alguma alteração, o médico solicita, normalmente, o exame de ressonância magnética da próstata para analisar se há nódulo. Quanto mais cedo forem feitos esses exames maior a probabilidade de recuperação. “O câncer de próstata é uma doença com chance de cura de até 95% quando é feito o tratamento precoce. É muito importante fazer o diagnóstico precoce, os exames de detecção precoce. Assim, o médico pode tratar inicialmente, melhorar a qualidade de vida dos homens e conseguir curá-los”, ressalta Juveniz.
Sintomas e necessidade do diagnóstico precoce
“Os problemas mais comuns da próstata são relacionados ao aumento benigno, ou seja, hiperplasia prostática benigna. Os sintomas mais comuns estão ligados à função da bexiga. A bexiga armazena a urina, função que pode ser afetada pelo aumento da próstata”, explica o urologista.
Com isso, o homem poderá sentir vontade repentina de urinar e com uma maior frequência, acordando muitas vezes à noite, e ter perda urinária. “O aumento da próstata também afeta os sintomas de esvaziamento da bexiga. Assim, o paciente pode ter ardência urinária, jato fraco, entrecortado ou dificuldade para iniciar o jato. Também pode ter uma sensação de esvaziamento vesical incompleto da bexiga”, lista o médico.
“Esses sintomas comuns são relacionados ao aumento benigno da próstata”, enfatiza. “A doença maligna, por ser um tumor que começa na região periférica da próstata, não afeta o sistema urinário na sua fase inicial. Portanto, nessa fase, não apresenta sintomas, os quais ocorrem em estágio mais avançado da doença”, explica João Juveniz. Isso reforça a importância dos exames preventivos e do diagnóstico precoce.
A fala na íntegra do médico João Alexandre Queiroz Juveniz pode ser conferida no áudio abaixo:
A ALEMS também é parceira da campanha realizada este mês pela União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale). Com a hashtag #VergonhaÉNãoSeCuidar, a intenção é difundir a ideia de que homem que vai ao médico é um homem de atitude.
Crédito obrigatório para as fotografias, no formato Nome do fotógrafo/ALEMS.