Em gravação, ex-assessor do Cimi diz que Igreja trabalha “de forma desumana”

Imagem: Pauletti é sabatinado pelos membros da CPI
Pauletti é sabatinado pelos membros da CPI
24/11/2015 - 17:27 Por: Fernanda França    Foto: PATRÍCIA MENDES

Durante gravação exposta nesta tarde (24) na CPI do Cimi, o ex-assessor jurídico da entidade, Maucir Pauletti, afirma que a Igreja Católica tem o poder de atuar nos bastidores e que “trabalha de forma desumana”.

No áudio, que teria sido gravado na sala da coordenação do Curso de Direito da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Pauletti demonstra mágoa com a igreja e com o Conselho Indigenista Missionário, apesar de negar que alguns trechos de suas falas se refiram ao Cimi.

Pauletti se refere a uma “hipocrisia sem precedente” e disse que está “morto profissionalmente” depois da “fritação e queimação” que sofreu. No mesmo trecho, diz estar de posse de um dossiê, que não será divulgado caso os padres deixem ele quieto, apenas desenvolvendo seu trabalho.

Questionado sobre tais declarações pela presidente da CPI, deputada Mara Caseiro (PTdoB), Pauletti afirmou que a gravação, feita sem sua autorização, foi um desabafo após o fechamento do escritório do Cimi em Campo Grande. No entanto, disse que sua fala se refere a questões particulares envolvendo sua atuação na igreja, e não no Cimi.

Na mesma gravação, o ex-assessor do Cimi fala claramente sobre a guerra entre indígenas e fazendeiros e admite uma “sequência de crimes em cadeia”, onde ele se inclui.

“Deus me livre alguém dar um tiro, Deus me livre. Estamos cometendo crime e eu me incluo nisso, porque talvez eu devia ter aberto a boca antes. Estamos cometendo crime em cima de crime por não agirmos, entende, ou sei lá por que razão. Há uma seqüência de crimes em cadeia”, confessa, sem esclarecer, no entanto, o que motivou a declaração. Questionado, mais uma vez, Pauletti afirmou que estava se referindo a problemas de cunho pessoal, e não ao Cimi.

Na mesma gravação, ele também fala sobre uma “polícia secreta” que tem “tudo na mão”. Afirma ainda que colegas dele “da secreta” contaram pra ele sobre o grampo que estava sendo feito em suas ligações. Um dos amigos citados é o delegado André Matsushita.

FINANCIAMENTO DE INVASÕES

Mara Caseiro também apresentou durante a sessão desta tarde uma Comunicação Interna do servidor Hélio Pedro endereçada ao administrador regional de Amambai da Funai (Fundação Nacional do Índio), onde ele se refere a Maucir Pauletti e afirma que o ex-assessor do Cimi entregou R$ 1500 para invasão da fazenda Fronteira, em Antônio João.

No documento, o funcionário da Funai afirma que membros do Cimi, liderados pelo “doutor Moacir”, reuniram-se com a comunidade indígena e que posteriormente a verba foi entregue ao capitão Dom Quetito para custear alimentação durante a invasão da fazenda de propriedade de Pio Silva, Piozinho e Dácio Silva.

Ainda conforme o comunicado, a invasão ocorreria dia 20 de novembro.

Maucir Pauletti, que trabalhou no Cimi entre 1989 e 2001, negou que tenha entregue o dinheiro ao capitão indígena. “Esse recurso nunca passou pela minha mão. Financiar invasões é insano e irresponsável. Sempre orientei os indígenas a prosseguir com o trâmite normal das coisas”, disse.

UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS

O ex-assessor do Cimi foi questionado ainda sobre a existência de um fundo, cujos recursos são oriundos da instituição inglesa Christian AID e carimbados especificamente para retomada de terras consideradas indígenas.

Maucir Pauletti disse desconhecer tais transações financeiras. Entretanto, o fundo é citado em sua própria defesa no processo movido contra ele pelo Cimi em busca de reparação de danos. O processo foi excluído após acordo entre as partes.
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