Após perder sobrinho por falta de atendimento, índio pede respeito ao governo

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Deputados ouvem indígenas durante CPI da ação/omissão do Estado nos casos de violência
14/04/2016 - 18:16 Por: Fernanda França - Assessoria de Imprensa    Foto: Wagner Lopes

Durante depoimento à CPI da ação/omissão do Estado nos casos de violência contra os povos indígenas nesta tarde (14), o Guarani Kaiowá Gilmar Batista, de Kurussu Amba (Coronel Sapucaia), lembrou que perdeu um sobrinho de 1 ano e 6 meses por falta de atendimento e pediu respeito do governo à comunidade indígena.

O bebê Jadson Lopes começou a vomitar ainda na madrugada e, em seguida, os indígenas entraram em contato com a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) para que fosse atendê-lo urgentemente. O órgão alegou não ter autorização para entrar na área. A criança veio a falecer às 7h50. O fato ocorreu em janeiro deste ano.

“Nós somos uma comunidade muito sofrida, não temos atendimento, sofremos violência, e inclusive perdi meu sobrinho de 1 ano e meio porque a Sesai não atendeu. Pedimos respeito”, declarou.

Outros dois depoentes – o indígena Anastácio Peralta, da aldeia Panambizinho, e o professor de Antropologia Jorge Eremites – foram unânimes em creditar ao confinamento vivido pelos povos indígenas, sobretudo os Guarani Kaiowá, atos violentos como mortes entre os próprios índios, suicídios, fome e miséria.

Ambos criticaram a má vontade do governo federal em resolver a guerra no campo em Mato Grosso do Sul.

A vice-presidente da CPI, deputada Mara Caseiro (PSDB), lembrou aos dois depoentes que a Assembleia Legislativa e o governo do Estado já propuseram à União uma solução viável para a questão, até agora sem resposta. Trata-se da ativação do Fepati (Fundo Estadual de Terras Indígenas).

Pela proposta, cerca de R$ 80 milhões seriam depositados mensalmente no fundo durante pelo menos 6 meses. O valor corresponde ao que o estado repassa à União a título de pagamento da dívida.

Ela voltou a criticar a inércia do governo federal no que diz respeito ao conflito por terras em Mato Grosso do Sul. A respeito de toda a violência sofrida pelos povos indígenas, Mara ressaltou que conversou com o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, um dia antes da morte do indígena Oziel Gabriel, durante reintegração de posse na fazenda Buriti, também sem sucesso.

Também foi ouvido nesta tarde pela comissão o indígena Genito Gomes, da aldeia Guaiviry, em Aral Moreira. Ele é filho do cacique Nísio Gomes, assassinado em 18 de novembro de 2013, cujo corpo até hoje não foi localizado.

Ele também revelou descaso do governo federal com a comunidade indígena em que vive. Disse que a Funai (Fundação Nacional do Índio) demora de 15 a 20 dias para atender chamados quando há casos de violência contra o grupo.

Denunciou ainda que a comunidade está há pelo menos 2 meses sem atendimento em saúde e muitas crianças estão doentes no local.

A CPI volta a ouvir novos depoimentos em sessões marcadas para os dias 18 e 26 deste mês. Também fazem parte do colegiado os deputados João Grandão – PT (presidente), Paulo Corrêa (PR), Rinaldo Modesto (PSDB) e Antonieta Amorim – PMDB (relatora).
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