Audiência busca solução para conter mosca de estábulo em MS

Imagem: Combate a mosca de estábulo é tema de audiência pública.
Combate a mosca de estábulo é tema de audiência pública.
27/03/2013 - 18:53 Por: Nathália Barros    Foto: Roberto Higa

A mosca de estábulo, também conhecida como mosca do bagaço, mosca do gado ou beruanha, recebeu mais um nome: mosca da vinhaça. É que o inseto tem encontrado nos depósitos de resíduos pastosos e malcheirosos que sobram após a destilação fracionada do caldo da cana-de-açúcar - vinhoto ou vinhaça - lugares com condições perfeitas para se proliferar.

Com pouco mais de 4 mm, a mosca tem tirado o sono de muitos produtores rurais em Mato Grosso do Sul. Sua tromba é maior do que a da mosca doméstica e ela se alimenta do sangue de animais, principalmente de bovinos e equinos. Mas os domésticos e até mesmo os homens podem entrar na lista de alvos da mosca da vinhaça. A picada do inseto costuma provocar estresse nas vítimas.

“O gado, por exemplo, fica agitado, deixa de comer e acaba morrendo rapidamente. Para se ter uma ideia, os produtores de leite chegam a registrar prejuízos que ultrapassam a casa dos 60%. É um problema sério, que ataca um dos principais pilares da economia do Estado e que precisa, com urgência, de solução”, explica o produtor rural Milton Barbosa.

A praga, que já provocou a morte de mais de 200 cabeças de gado nos últimos três anos, só na região de Angélica, motivou a realização da audiência pública, proposta pelo deputado estadual Laerte Tetila, líder do PT, na tarde desta quarta-feira (27/3), no plenário Júlio Maia, na Casa de Leis.

A iniciativa pretende reunir propostas efetivas para compor o Projeto de Lei 07/2013 de autoria do deputado petista, subscrito por Felipe Orro (PDT) e Marcio Monteiro (PSDB), presidente da Comissão de Meio Ambiente. “Esta deve ser a primeira lei brasileira a impor regras para o armazenamento, distribuição e aplicação da vinhaça gerada pelas atividades sucroalcooleiras”, comentou o proponente do evento.

Para debater o assunto, a audiência reuniu representantes da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), MPE (Ministério Público Estadual), Imasul (Instituto de Meio Ambiente do MS), Seprotur (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo), OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do MS), além de produtores rurais, agricultores, veterinários e representantes dos setores sucroalcooleiro e bioenergético.

Vinhoto - Mais conhecido por ser altamente poluidor, prejudicando o lençol freático, rios e córregos, além de gerar inúmeros problemas na fauna e flora, o vinhoto também carrega um lado positivo. Rico em nutrientes, a matéria é muito utilizada na fertirrigação das plantações de cana-de-açúcar, graças à contribuição para a produtividade do canavial. A técnica substituiu o antigo hábito de descartar nos rios a matéria e garantiu a economia, já que os empresários não precisam mais gastar com fertilizantes. Com isso, ele acaba sendo considerado um dos substratos de maior valor para as usinas.

O problema está na forma de armazenamento do produto. Depositado em tanques muito grandes, o vinhoto se torna um atrativo para o mosquito que se alimenta de sangue. “Já existem normas para garantir a segurança no uso do produto e reduzir a presença do inseto. O problema é que muitos usineiros não as obedecem”, avalia Helena Clara Kaplan, presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB.

Soluções - Pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Paulo Henrique Cançado revelou que desde 2011 pesquisas estão sendo realizadas em busca de soluções para o problema. “Infelizmente a solução ainda não foi encontrada, mas já sabemos que é necessário que produtores rurais e empresários dos setores sucroalcooleiro e bioenergético se unam nesta luta. Afinal, apesar de se reproduzir em escala maior nos depósitos de vinhaça, descobrimos que o inseto também está presente nos estábulos”.

O assunto também preocupa a secretária de Estado de Produção, Tereza Cristina Corrêa da Costa. “O setor sucroalcooleiro é responsável pela geração de muitos empregos, além de contribuir com a economia de Mato Grosso do Sul. Por outro lado a pecuária também compõe o pilar de sustentação da economia sul-mato-grossense. Por isso, precisamos pensar em soluções que não prejudiquem nenhuma das partes envolvidas” concluiu.

Preocupado com o rebanho, o produtor rural de Angélica, Milton Barbosa, usou como exemplo a medida adotada em Ivinhema, município que sofreu com a praga em 2009. “Para acabar com o problema, a usina Adecoagro adotou um novo sistema. Concentrando o produto, eles retiram uma parte para adubar a plantação de cana. Outra parte volta em água para a usina e o gás metano, proveniente da matéria, é queimado e gera energia para a indústria. Em dois ou três anos, o investimento feito na tecnologia para viabilizar o processo, é resgatado”.

Diretor de desenvolvimento do Imasul, Roberto Gonçalves lembra que as exigências para a instalação de usinas de cana-de-açúcar no Estado estão entre as mais rigorosas do País. “Para que elas possam aproveitar o vinhoto, o Imasul faz uma série de pesquisas que avaliam desde a qualidade do solo até a extensão territorial. Com o laudo em mãos, apontamos aos empresários do setor a frequência e quantidade de fertirrigação que podem ser feitas sem que o solo seja comprometido. Entretanto concordamos que uma lei mais especifica deve contribuir para o aprimoramento das técnicas adotadas atualmente e reduzir os impactos negativos. Mas, é importante saber que o desenvolvimento sustentável é o único caminho para que a população humana prevaleça”, defende.
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