Diretor da Santa Casa diz que readequação diminuirá despesas

Imagem: CPI ouve Wilson Teslenco sobre situação enfrentada pela Santa Casa de Campo Grande.
CPI ouve Wilson Teslenco sobre situação enfrentada pela Santa Casa de Campo Grande.
10/06/2013 - 19:12 Por: Nathália Barros e Alessandro Perin    Foto: Roberto Higa

Wilson Teslenco, diretor presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), que desde o último dia 16 voltou a ser responsável pela gestão da Santa Casa da Capital, foi a primeira pessoa a ser ouvida pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que averigua possíveis irregularidades no repasse de recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) para unidades hospitalares de Campo Grande, Corumbá, Paranaíba, Dourados, Três Lagoas, Jardim, Coxim, Aquidauana, Nova Andradina, Ponta Porã e Naviraí. A oitiva aconteceu na tarde desta segunda-feira (10/6) no plenarinho da Casa de Leis.

Durante o depoimento, que durou mais de três horas, Teslenco apresentou um levantamento que revela problemas enfrentados pela Santa Casa, que comprometem a qualidade do serviço oferecido na unidade. “A dívida do hospital com fornecedores e tributos ultrapassa a casa dos R$ 112 milhões. Agora, o trabalho é de readequação para diminuir despesas e otimizar os serviços”, esclareceu, informando ainda que há 46 ações contra a Santa Casa, que tramitam nas varas civil e trabalhista, totalizando uma dívida superior a R$ 160 milhões.

Na oitiva ficou comprovado que a Santa Casa foi prejudicada com a intervenção do município de Campo Grande e do Estado de Mato Grosso do Sul. A dívida da entidade era de R$ 47 milhões antes da intervenção e hoje chega a mais de R$ 160 milhões. Somente no último ano foram R$ 80 milhões em dívidas adquiridas pela Junta Interventora.

Teslenco ainda ressaltou que antes da intervenção a Santa Casa tinha 750 leitos disponíveis ao SUS. Depois, segundo ele, houve uma redução para 630 leitos. Neste período não houve investimento em nenhum leito, apontou.

O presidente da Santa Casa explicou que a Junta Interventora contratou mais pessoas, aumentou as terceirizações e realizou contratos com valores absurdos para a aquisição de medicamentos. “Quando deixamos a direção da Santa Casa tínhamos dois mil colabores. Com a intervenção, esse número subiu para três mil. As terceirizações triplicaram. Foram mais de 100. Isso vai significar um grande desafio. Para dispensar os funcionários precisa de dinheiro. É um desfio bastante grande recuperar a Santa Casa”, destacou.

Em seu depoimento à CPI, Teslenco frisou que uma auditoria está sendo realizada pela nova administração e irregularidades já foram encontradas. Ele disse que no último dia da intervenção foi autorizada a compra de medicamentos que o consumo trimestre representava R$ 46 mil. No último dia se trocou a marca do medicamento por outra que custava R$ 500 mil. Uma parte já havia sido entregue, mas a outra foi suspensa, fator que evitou um gasto de R$ 1,6 milhão, destacou.

Para o presidente da comissão, deputado Amarildo Cruz (PT), o depoimento de Teslenco foi fundamental para que os membros da CPI saibam sobre a real situação enfrentada pelo maior hospital do Estado. “Com esse conhecimento, agora temos que trabalhar para não permitir que a unidade, única a atender emergências de alta e média complexidades, responsável por acolher tanto pessoas de baixo poder aquisitivo quanto as mais ricas, feche suas portas”, defendeu.

Além de ser ouvido, Teslenco deve encaminhar um relatório sobre a situação financeira e administrativa da Santa Casa à comissão.

Também foi encaminhado requerimento de informações ao Governo do Estado, à SES (Secretaria Estadual de Saúde) e às prefeituras e secretarias de saúde dos municípios investigados. Todos os órgãos têm prazo de 15 dias para encaminhar à CPI os documentos.

A CPI da Saúde terá 120 dias para concluir os trabalhos de investigação, podendo ser prorrogada apenas uma vez, por mais 60 dias. A Comissão Parlamentar de Inquérito decidiu investigar os cinco últimos anos de contratos entre os municípios e o SUS. "Cinco anos é um período razoável. Entretanto, nada nos impede de investigar convênios anteriores a este prazo. Queremos o melhor para a população", ressaltou o vice-relator, Maurício Picarelli (PMDB).

Denúncias - O presidente da comissão, lembra que a população já pode contribuir com denúncias pelo e-mail cpisaude@al.ms.leg.br.

A CPI pretende, ainda nesta semana, disponibilizar, no facebook, mais um canal de comunicação entre a população e a comissão.

“Com certeza receberemos muita ajuda por parte da população. As pessoas sabem da importância do nosso trabalho e com certeza irão nos ajudar. Todos querem uma saúde melhor para Mato Grosso do Sul”, salientou Amarildo Cruz.

Para auxiliar nos trabalhos da comissão, foram contratação seis peritos, sendo dois médicos, dois das áreas contábil e financeira e outros dois do setor jurídico. "Esses peritos não podem ter qualquer ligação com órgãos públicos ou entidades governamentais. Queremos o máximo de transparência na análise dos documentos. São peritos isentos, para que a CPI possa ter autonomia", comentou Amarildo.

Próxima reunião - A secretária de Estado de Saúde, Beatriz Figueiredo Dobashi, deve ser a próxima a ser ouvida pela comissão. A oitiva está prevista para acontever às 15h do dia 17 de junho, no plenarinho Nelito Câmara.

Com sua contribuição, os parlamentares pretendem fazer um levantamento sobre o perfil da saúde no Estado. “Esta reunião será fundamental para o encaminhamento dos trabalhos da CPI, afinal, precisamos saber como funciona a gestão da saúdes nos macro polos, que são Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Corumbá, além dos micro polos. Identificar os 'gargalos' para, só então, conseguir apontar os problemas e sugerir soluções”, frisou o relator da CPI, deputado estadual Junior Mochi (PMDB).

As reuniões ordinárias da CPI da Saúde em Mato Grosso do Sul serão realizadas todas as segundas-feiras, a partir das 15h, sempre abertas à população. A CPI é composta pelos deputados Amarildo Cruz (PT), presidente; Lauro Davi (PSB), vice-presidente; Junior Mochi (PMDB), relator; Mauricio Picarelli (PMDB), vice-relator e Onevan de Matos (PSDB), membro.
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