Funasa omite informações sobre administração de verbas ao Centrinho

17/03/2005 - 23:41 Por: Assessoria de Imprensa/ALMS   

<P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da desnutrição e mortalidade infantil indígena, presidida pelo deputado estadual Maurício Picarelli (PTB), o diretor clínico do Hospital da Missão Caiuá, Franklin Amorin Saião, afirmou que a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) é que administra os R$ 7 milhões anuais enviados para a Missão Caiuá. A afirmação contrapõe a omissão de informações do coordenador regional da Funasa, Gaspar Hickmann, que ao depor à Comissão no dia 10 deste mês não esclareceu o controle total que a Funasa têm sob os recursos destinados à Missão que cuida dos índios desnutridos. </FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Picarelli demonstrou insatisfação com a descoberta. "Eu estou muito preocupado com a situação que estamos observando. É muito dinheiro dos governos federal e estadual para pouca coisa. O coordenador da Funasa, Gaspar Hickmann, omitiu que o convênio com a Missão era administrado pela Fundação", protestou o presidente.</FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>O convênio, Funasa/Missão Caiuá existe desde outubro de 1999. Já o dinheiro que o SUS (Sistema Único de Saúde) encaminha para a Missão deve atender o PSFI (Programa de Saúde Familiar Indígena), cuja sede é em Dourados, mas atende outras aldeias do Estado. Em 2002 foi repassado um valor superior a R$ 348 mil; em 2003 o repasse chegou até R$ 471 mil e no ano passado o valor foi de R$ 416 mil. </FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Outra averiguação constatou que a Funasa gasta mais com capacitação de funcionários do que com a compra de remédios. Segundo relatórios encaminhados pela própria Fundação, no ano de 2004 foram gastos com capacitação cerca de R$ 446 mil e com a compra de medicamentos o valor bem inferior a este último. </FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Amorin, que trabalha na Missão há 17 anos, explicou que a fome na aldeia é antiga. "Desde 1928, quando foi fundada a Missão na região, já havia problemas de saúde. A intenção do grupo era evangelizar o povo indígena, mas diante do quadro houve a decisão de se levar educação e saúde", frisou ele. </FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Durante depoimento, Saião disse ainda que o hospital da Missão Caiuá gasta mais com a capacitação de agentes do que com medicamentos. O Centrinho é um hospital de baixa complexidade e todos os problemas de saúde mais graves são encaminhados para o Hospital Evangélico, no município de Dourados. Na opinião do médico, houve falha no envolvimento dos agentes de saúde. "Eles não vestiram a camisa. Também faltou acompanhamento para discutir problemas e soluções para a comunidade", citou o médico que em nenhum momento do depoimento soube explicar quantas crianças morreram de desnutrição na região. Para ele, os recursos são suficientes para o atendimento hospitalar, mas por conta dos investimentos na melhoria física e aumento de pessoal o valor não é o ideal. </FONT></P><B><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Esclarecimentos</FONT></B><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2> – O segundo depoente foi Zélik Trajber, médico contratado pela Missão em acordo com a Funasa. Segundo ele, que atualmente não trabalha no Centrinho, pois exerce suas atividades no campo, ou seja, nas aldeias, a situação da equipe de atendimento é extremamente precária. Com ele, só existem dois médicos, cinco enfermeiros e dois dentistas para atender todas as aldeias da região. Apesar de haver vagas disponíveis para os cargos, Zélik explica que não há disposição de profissionais nas áreas; isso em âmbito nacional. </FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>O atendimento domiciliar tem aumentado a procura pelos postos de saúde, os médicos chegavam a atender cerca de 50 indígenas em um único dia, sobrecarregando os funcionários e graças a esse tipo de atitude, houve uma melhora na aproximação entre médicos e índios. A resistência que existe até hoje pode ser um dos motivos da falta de conhecimento da equipe a respeito da existência de pessoas doentes. "É necessário ganhar a confiança dos índios primeiro, a cultura deles impõe barreiras, muitas famílias fogem com crianças doentes, que depois vem a óbito", explicou Zélik.</FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Quando questionado a respeito de desvios de verbas,&nbsp;Trajber preferiu não afirmar qualquer acusação, porém, confirmou que apenas a parte de recursos humanos é administrada pela Missão, apesar de ter direito a R$ 7 milhões, que estariam sendo administrados pela Funasa.</FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Almires Martins Machado, indígena Guaté (mistura de Terena com Guarani) da aldeia Jaguapiru de Dourados, relatou que sua revolta e luta por um conselho tutelar indígena teve início no ano de 2001, quando aconteceu a trágica história de uma indígena no Estado, que vendeu a filha por uma garrafa de pinga e depois a mesma foi encontrada morta e violentada. "Comuniquei a polícia federal e o ministério público e então lutei muito para a criação de conselhos tutelares indígenas, mas não deu em nada", contou ele.</FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>Nas declarações de Maria Carmem Matsumaká, que é ex-coodenadora nacional dos conselhos tutelares, ela descreveu a luta para a criação de um conselho tutelar indígena. Ela que organizou o 1° Fórum Regionalizado sobre a questão no ano de 2003, explicou que muitas propostas foram criadas para amenizar os problemas de fome, abuso sexual, vício, desnutrição e exploração, dentre elas, a criação de um centro de referência dentro das aldeias que desenvolvessem múltiplas atividades. </FONT></P><P align=left><FONT face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" size=2>O deputado Maurício Picarelli disse que vai trabalhar para que em breve haja um Conselho Tutelar Indígena, onde poderia ser feita uma fiscalização mais próxima dos problemas que atingem as famílias indígenas do estado. Após o depoimento de Carmem, o Presidente da Comissão agradeceu a presença de todos e marcou para o próximo dia 31 de março, às 15h, a próxima audiência, quando deverão ser ouvidos índios da aldeia Caiuá/Guarani.</FONT></P>
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