Março Azul-Marinho: Câncer colorretal causa uma morte a cada 30 minutos

Imagem: Céu na cor da campanha Março Azul-Marinho, instituído em MS por lei aprovada na ALEMS no ano passado
Céu na cor da campanha Março Azul-Marinho, instituído em MS por lei aprovada na ALEMS no ano passado
10/03/2023 - 09:00 Por: Osvaldo Júnior   Foto: Wagner Guimarães

Visualize a cena: uma pessoa com mais de 50 anos, sedentária, fumante, acima do peso, que quase não se alimenta de frutas e legumes, está comendo um fast food e bebendo um refrigerante. Essa pessoa reúne as características e hábitos propícios para o desenvolvimento do câncer de intestino, também conhecido como câncer de cólon e reto ou colorretal. A doença é a terceira neoplasia maligna com maior incidência no Brasil e mata, em média, uma pessoa a cada trinta minutos no país.


Deputado Renato Câmara é o autor da lei que cria a campanha

(Foto: Luciana Nassar)

O problema recebe atenção especial neste mês em que é realizada a campanha Março Azul-Marinho, de Conscientização e Prevenção do Câncer Colorretal. Instituída pela Lei Estadual 5.903/2022, de autoria do deputado Renato Câmara (MDB), a campanha visa à realização de ações que contribuam para melhor informação sobre a doença. Como a lei foi aprovada pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) em junho de 2022, este é o primeiro ano de campanha oficial no Estado.

Para o autor da lei, o Março Azul-Marinho oportuniza intensificar as ações conjuntas para o enfrentamento do câncer colorretal. “É um momento para ampliarmos as discussões com o poder público, com a sociedade, com profissionais da Saúde e de outras áreas, para que mais informações sobre prevenção e tratamento sejam levadas à população. É preciso unir esforços para reduzirmos o número de mortes em nosso Estado causadas por esse câncer”, disse o deputado Renato Câmara.


Arte: Luciana Kawassaki

A preocupação do parlamentar se justifica pelas alarmantes estatísticas. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 20.245 pessoas morreram no país em 2020 (último dado) em decorrência do câncer de intestino. Essa quantidade supera a população de alguns municípios de Mato Grosso do Sul, como Costa Rica (21.456 habitantes) e Sonora (20.158). Em média, 55 pessoas com câncer colorretal morrem diariamente no Brasil. É uma morte a cada meia hora.

Para este ano, 45.630 pessoas devem receber o diagnóstico de câncer colorretal, sendo 21.970 homens e 23.660 mulheres. A estimativa para Mato Grosso do Sul é de 600 novos casos (310 homens e 290 mulheres). Isso representa a média de 55 sul-mato-grossenses que deverão descobrir, a cada mês deste ano, que têm a doença.

Essa é a terceira maior incidência entre as neoplasias malignas, superada apenas pelos números do câncer de mama (com estimativa de 910 novos casos neste ano em Mato Grosso do Sul) e de próstata (1.230 casos). Isso sem considerar o câncer de pele não melanoma, que representa cerca de 30% dos casos, mas que tem gravidade menor e altos percentuais de cura. 

Alimentação saudável e exercícios físicos ajudam na prevenção


Henrique Ascenço destaca a prevenção à doença

(Foto: Arquivo pessoal)

“Idade, histórico familiar da doença, tabagismo, consumo de álcool e sedentarismo são alguns fatores de risco para o câncer colorretal”, listou o médico oncologista Henrique Guesser Ascenço. “É preciso evitar a dieta ocidental, em que há muito consumo de alimentos processados e ultraprocessados, gordura, pouca fibra... É importante a pessoa comer bastante vegetais, frutas, saladas, evitar embutidos, fazer atividade física durante meia hora e três vezes por semana pelo menos”, orienta o médico.

O especialista alerta para alguns sinais de que a pessoa pode estar com câncer de intestino. “O principal sintoma é a presença de sangue vivo nas fezes de forma repetitiva, seja diariamente ou de modo intermitente, dia sim e dia não”, explica Guesser Ascenço.


Arte: Luciana Kawassaki

O médico chama atenção a dois aspectos relativos a esse sintoma: sangue vivo nas fezes nem sempre indica câncer colorretal (pode ser sinal de outras doenças, como colite e hemorroidas) e o sangue nem sempre é visível. “Isso ocorre quando o tumor é do lado esquerdo do cólon (descendente). Neste caso, o sangue se mistura às fezes. A pessoa perde sangue e não nota. Por isso, anemia inexplicável, sem causa detectável, pode ser sintoma de câncer no intestino”, alertou.

O médico mencionou outros sinais do câncer colorretal. “Dores abdominais, perda de peso e alteração do hábito intestinal são também sintomas da doença”, enumerou. Quanto à alteração do hábito intestinal, o oncologista detalhou que pode ser para mais (diarréia) ou para menos (constipação).

Apesar da incidência de casos e de mortes significativa, o câncer de intestino apresenta elevados percentuais de cura se descoberto e tratado precocemente. “O ideal é que as pessoas comecem a fazer o exame de colonoscopia a partir dos 45 anos”, disse o médico. Descoberto o câncer no estágio inicial, a possibilidade de cura é elevada. “A chance é de mais de 90% e sem necessidade de se fazer a quimioterapia”, informou.

A colonoscopia também pode identificar a ocorrência de pólipos, conforme detalhou o oncologista.  “O exame ajuda a detectar o pólipo, que lembra uma verruginha, e assim podemos retirá-lo. Isso é importante, porque o pólipo é precursor do câncer”, afirmou o médico.

As dores causadas pela doença, a necessidade de tratamento e o risco de morte; tudo isso pode ser evitado com menos fast food, alimentos embutidos, ultraprocessados, gordurosos, menos cigarro, álcool e mais atividades físicas, mais frutas, verduras, legumes e grãos. Hábitos saudáveis e ingestão de fibras ajudam o intestino a trabalhar regularmente, contribuem para a redução das estatísticas de casos e mortes do câncer colorretal e dão à vida um tom suave, como o azul-marinho. 

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