O deputado estadual Pedro Kemp (PT) organizou para esta quarta-feira (11), às 9h00, no Plenarinho da Assembléia Legislativa, uma primeira reunião para discutir a organização do movimento que poderá resultar na mudança do nome do Estado de Mato Grosso do Sul.<P></P>Além da Liga Pró Estado do Pantanal, da qual fazem parte artistas como Manoel de Barros e Geraldo Espíndola,- pioneira na proposta - foram chamados o Fórum Estadual de Cultura, a Fundação de Cultura, o Trade Turístico de MS, a OAB/MS, o Sebrae, Fiems, e também universidades, sindicatos, secretarias de Estado como a de Educação; e de Produção, além de órgãos de imprensa e outras entidades representativas da sociedade. Na seqüência de eventos que deverão criar espaço para que a população do Estado manifeste sua opinião, deverão ocorrer: Audiência Pública com ampla participação da sociedade, debates, palestras, consulta popular e campanha de divulgação. <P></P>Quanto aos aspectos legais da mudança do nome de MS, o deputado Pedro Kemp (PT) afirma que por ser um fato inédito, sem precedentes na história do Brasil, uma pesquisa jurídica tem sido feita para aferir a competência para uma ação deste porte; se da Assembléia Legislativa de MS ou do Legislativo Federal. <P></P>“Creio que tem crescido por parte da população do nosso Estado o desejo de termos nossa existência reconhecida. Como Estado distinto dos demais, único em suas características, rico em potencialidades e recursos naturais e com uma cultura extraordinária. Também parece mais evidente hoje para nós o quanto essa confusão tem nos prejudicado, tanto do ponto de vista econômico quanto da construção da nossa identidade”, afirma Pedro Kemp (PT). <P></P>A seguir veja texto base para a discussão de amanhã: <P></P><P align=center><STRONG>Em busca da identidade perdida <BR>Mudar é preciso </STRONG></P><P></P>A identidade de um povo não se mede somente pela sua existência em si mesma, mas também pelo reconhecimento que se tem dela. Nós, os sul-mato-grossenses de origem ou por opção, temos a nossa cultura própria, temos a nossa identidade e temos o nosso território. Mas não temos, externamente, o necessário reconhecimento. Somos confundidos todo o tempo, desde a criação do Estado.<P></P>De Terra Mbayânica, em 1492 (quando os valentes Guaicurus ainda eram os senhores do Chaco Boliviano e Paraguaio e do Planalto Central Brasileiro), até os dias de hoje, a terra onde construímos nossos lares e criamos nossos filhos e netos já foi conhecida por nada menos que vinte nomes diferentes: Província do Rio da Prata, Departamento de Camapuã, Província de Amambahy, Campos da Vacaria, Estado de Brasilândia, Estado de Rio Pardo, Estado de Maracaju por duas vezes, Território Federal de Ponta Porã, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, entre várias outras denominações.<P></P>A idéia de se separar da porção norte do Estado já era acalentada, pelo menos, desde o Século XIX. Mas foi em 1901, na cidade Nioaque, que surgiram as primeiras manifestações escritas sobre o tema. Os divisionistas, como eram conhecidos, defendiam o rompimento com Cuiabá e a separação do Sul do Estado, por entenderem que as riquezas daqui eram retiradas pelo governo e não retornavam em benefícios para a população. Em 1907, eclodiu em Bela Vista uma revolta armada separatista, que combateu o Norte até 1912, quando foi derrotada. De lá para cá, diversos episódios marcaram a luta pela criação de um novo estado ao sul. Para citar alguns: em 1933, foi lançado pela Liga Sul-mato-grossense, no Rio de Janeiro, o Manifesto Divisionista, criticando o descaso dos governos de Cuiabá para com o Sul do Estado e chamando a população a se integrar ao movimento pela separação; em 1943, é criado o Território Federal de Ponta Porã, que depois deixaria de existir, incorporando-se novamente ao Mato Grosso; em 1963, reúne-se em Campo Grande o I Congresso de Municípios de Mato Grosso, onde várias manifestações e a aprovação de uma moção deixam evidente a vontade e a necessidade de se separar o sul do norte; em 1977, com o anúncio formal da divisão do Estado, é reativada a Liga Sul-mato-grossense.<P></P>Foram anos de reuniões, manifestos, revolta armada, brava luta para tentar consolidar um sonho. Mas isso ainda não se concretizou. Hoje, com 26 anos de criação do Mato Grosso do Sul – 102 anos após a manifestação formal dos divisionistas –, no que se refere ao reconhecimento de uma identidade própria do nosso povo frente ao Brasil e ao mundo, estamos mais próximos do Século XIX do que pensamos. Quem, dos que nasceram aqui, nunca ficou desconcertado ao ser confundido com um mato-grossense? Quantos, dos que foram acolhidos por essa terra, não tiveram e não têm de explicar aos parentes e amigos que vivem no Mato Grosso do Sul e não em Mato Grosso? Quem nunca se sentiu incomodado quando o noticiário da televisão, quando a matéria do jornal, quando a notícia do rádio fala das nossas riquezas naturais, da cultura do nosso povo, de qualquer das nossas cidades e as situa no Mato Grosso?<P></P>Quando, reiteradamente, temos de explicar a todos lá fora de onde viemos ou onde vivemos, é sinal de que não há uma percepção clara da nossa existência. Somos identificados com outros, como outros: os mato-grossenses. Aos olhos do Brasil e do mundo, cidades importantes como Dourados, Corumbá, Três Lagoas, Coxim, Ponta Porã, Bonito, não estão situadas no Mato Grosso do Sul, fazem parte de Mato Grosso. O Pantanal, cujos dois terços estão em nosso território, pela lógica a que estamos submetidos, faz parte do Mato Grosso...<P></P>Quando, após 26 anos, prefeitos, empresários, artistas, intelectuais, parlamentares, governadores e cidadãos mais conscientes precisam enviar correspondências aos órgãos de imprensa, emissoras nacionais de rádio e televisão, a empresas, consulados e embaixadas, para esclarecer que há uma cultura própria, uma estrutura diversificada, um povo diferente, um novo Estado da Federação ao sul de Mato Grosso, é evidente que algo está errado. E a questão não afeta de forma negativa somente o aspecto cultural, mas também o econômico. Quando a imprensa nacional mais uma vez se confunde e divulga que, em 2003, o PIB (Produto Interno Bruto) de Mato Grosso foi de 8,1%, bem acima do PIB brasileiro (em torno de 3%), a nossa economia perde bastante com isso. Da mesma forma, quando é erroneamente divulgado que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano da ONU) de Mato Grosso, nos últimos anos, saltou do 16º lugar no Brasil para o 7º do País em qualidade de vida, a nossa economia perde. Ou quando a novela das oito da Rede Globo divulga Bonito no Mato Grosso. Ou quando, na Índia, empresários do mundo todo procuram o governo de Mato Grosso para discutir negócios turísticos sobre Bonito...<P></P>Vivemos em um Estado com índices de desenvolvimento econômico e social superiores aos demais, com grande produção de riquezas (agricultura, pecuária etc), com potencial turístico de enorme grandeza (segundo segmento que mais emprega e distribui renda no mundo), com possibilidades de realização de pesquisas não comparadas em todo o planeta (o Pantanal, por exemplo, tem uma biodiversidade maior que a Amazônia), com reservas naturais gigantescas (água, minérios, biomassa), com valores artísticos reconhecidos nacionalmente, com um povo trabalhador e solidário que possui uma impressionante diversidade cultural... Falta-nos, no entanto, o reconhecimento.<P></P>A Assembléia Legislativa, assim como diversos parlamentos municipais e até mesmo a Câmara dos Deputados, já foi palco desse debate inúmeras vezes, na maior parte para denunciar ou reclamar de tratamento errôneo a nós dispensado. É chegado o momento de resgatarmos novamente o espírito guerreiro dos Guaicurus e dos lutadores pioneiros pelo reconhecimento definitivo de uma identidade cultural da nossa gente e do lugar que escolhemos e que nos escolheu para vivermos. Esse sonho é de muitos e nele todos cabem. A Assembléia Legislativa como um todo deve se comprometer. Todos os representantes partidários, o Judiciário e o Ministério Público, os empresários, intelectuais, artistas, representantes dos trabalhadores, das universidades, das igrejas, dos clubes de serviço, da mídia, dos segmentos sociais os mais diversos devem fazer parte dessa discussão. Só temos a ganhar: a população, os setores produtivos e da intelectualidade, as organizações da sociedade, os Poderes em todas as esferas. O sonho de tantos, de que o Estado tenha um nome que a sua gente mereça, um nome que não esconda a dignidade e altivez do seu povo, um nome que reafirme a honra de pertencer a este lugar, que proclame aos quatro cantos do mundo a nossa identidade cultural e o nosso potencial econômico, é urgente e necessário e pode tornar-se realidade a partir dos esforços conjuntos e da união de todos. Pelo bem do Mato Grosso do Sul e de sua população, mudar é preciso! <P></P>Campo Grande, 11 de fevereiro de 2004. <P></P><P align=center><STRONG>Mandato Participativo Pedro Kemp Deputado Estadual </STRONG></P>