Concessionárias prestam contas sobre qualidade da água consumida em MS
Convidadas para esclarecer os questionamentos relativos à qualidade da água distribuída aos consumidores sul-mato-grossenses, as concessionárias Sanesul e Águas Guariroba afirmaram que o produto fornecido encontra-se dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação brasileira. Os dados foram informados durante a reunião da Frente Parlamentar de Recursos Hídricos de Mato Grosso do Sul, proposta e coordenada pelo deputado Renato Câmara (MDB), realizada nesta quarta-feira (24) na Assembleia Legislativa.
“A Casa de Leis tem a função de fazer os debates e aprofundar os temas de interesse da sociedade e, diante das divulgações em vários sites no Brasil em relação à contaminação da água por agrotóxico, a Frente convidou especialistas para esclarecer uma informação tão forte como essa”, destacou o parlamentar, idealizador do evento intitulado "Ações e Políticas para discussão da qualidade da água nos centros urbanos de Mato Grosso do Sul".
De acordo com o deputado, os trabalhos relativos ao tema ainda serão mantidos. “Vamos pegar as informações apresentadas e fazer análises e debates na Assembleia Legislativa. A Casa de Leis cumpre mais uma vez o papel de representar a população e defender os interesses da comunidade sul-mato-grossense”, disse.
“Coquetel de Agrotóxico” - Segundo o representante da Águas Guariroba, Cleiton Bezerra, as legislações brasileiras contêm as quantias máximas de agrotóxicos presentes por litro de água e a frequência de amostragem que devem ser retiradas para análise da água consumida. “Em Campo Grande, são gerados cerca de 25 mil resultados por mês. Cada amostra analisada avalia 91 parâmetros e em uma delas foram identificados 27 agrotóxicos, mas os resultados apontaram que a quantidade dessas substâncias na água era menor que os limites mínimos para ser feita a quantificação das substâncias”, explicou.
Para Bezerra, os dados sobre a presença de agrotóxicos na água consumida em MS, divulgados em reportagens jornalísticas, não receberam a devida interpretação. “Não houve resultado quantificável na amostra. Os dados sobre o que as matérias chamaram de ‘coquetel de 27 agrotóxicos’ foram divulgados sem interpretar, era dados técnicos sem tratamento. Com base em tudo isso, a gente tem traquilidade para afirmar que a população pode consumir a água sem medo”, alegou.
O representante da empresa Sanesul, Onofre Assis, também defendeu que a concessionária realiza a análise das amostras coletadas e que os resultados seguem os padrões das leis. “Trabalhamos com responsabilidade, cumprimos a legislação. A vigilância da Secretaria de Estado de Saúde faz a contraprova do material coletado. Dentro do que a legislação determina, estamos nos padrões recomendados”, disse.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul (CREA-MS), Dirson Artur Freitag, demonstrou preocupação com a divulgação de dados sobre uso de agrotóxicos. “Eu me preocupo com a colocação de dados sem conhecimento aprofundado. O país tem legislação rígida para utilização de agrotóxicos. Existem estudos técnicos para a utilização. Ele impacta o ambiente, mas, por vezes, não da maneira como é exposto. Não sou defensor intransigente dos agrotóxicos. A maioria dos agrotóxicos tem meia vida”, pontuou.
Freitag ainda destacou a importância da intermediação da Assemblea Legislativa no assunto. “Quero enaltecer a iniciativa de trazer esse debate para a Assembleia, que é a Casa de produção de Leis e por onde começa a alteração desses processos. Temos preocupação com a água, porque a mesma água que a população toma é a mesma que nós, técnicos da área, tomamos. Ninguém quer contaminar nossa água ou alimento”, refletiu.
Contaminação - A professora do Instituto de Biociência da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Alexandra Pinho, proferiu uma palestra, onde apresentou estudos sobre a contaminação que os agrotóxicos provocam. “Depois que o agrotóxico é aplicado, parte vai para atmosfera. Uma vez no ambiente, quando chove, pode voltar para o solo junto com a precipitação. As substâncias podem ser transferidas para os recursos hídricos, de onde é captada a água para a gente beber”, esclareceu.
A pesquisadora alertou sobre as consequências da contaminação por agrotóxicos. “Muitos agrotóxicos não são eliminados do corpo. Podem causar sérios problemas de saúde. Não há estudo sobre a reação entre diferentes agrotóxicos na água”, afirmou. Alexandra defendeu alterações na quantidade de agrotóxicos presentes na água, permitida pela legislação brasileira. “Na Europa, as quantidades máximas de presença dessas substâncias agrotóxicas na água giram em torno de 0,1 micrograma por litro. Aqui no Brasil, o limite de algumas substâncias chega a 500 microgramas por litro”, disse.
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